Exatamente às três e quarenta da madrugada a cena se repetia e ela, da janela, absorta, observava e, atentamente, ouvia. Era o telefone da esquina que tocava, enquanto a rua, adormecida, silenciosa, recepcionava o “chamado” que zunia, inconvenientemente, até a sua janela.
Mesmo que estivesse sob o efeito dos calmantes que tomava há anos, mesmo que estivesse livre da insônia que, feito doença genética, a incomodava desde a infância, mesmo que houvesse finalmente arrumado algum espaço em seu coração perturbado e confuso para uma tranqüilidade profunda, que a permitisse, por instantes, fechar os olhos e simplesmente esquecer, ainda assim seria impossível continuar quieta, alheia àquele barulho irritante, estridente, “acordante”, do telefone azul na madrugada.
Da janela, ela esperava. E era isso o que havia feito a vida inteira: esperado, pensava ainda mais inquieta. Esperava que alguém, finalmente, atendesse o telefone que gritava para que, também finalmente, ele calasse, adormecesse e a deixasse adormecer. Mas nada. Nem uma alma viva passava e os mortos, por certo, já não se incomodavam, já não se preocupavam em atender qualquer “chamado”, livres que estavam das tensões terrestres. E como ela os invejava!
Em sua solidão, insone, ela divagava imaginando o que faria uma pessoa, àquela hora da madrugada, levantar-se de sua cama, abrir mão de seu sono, de seus sonhos e ligar para o nada! Que esperança vã ou louca motivava aquela mão que discava para um telefone de rua! E o pior, de uma rua vazia, de pessoas e de casas, preenchida apenas por postes, sustentando luzes queimadas, e por solidão... a mais pura solidão! Que tipo de desejo dirigia aquelas mãos, que tipo de fraqueza continha seus dedos, que tipo de carência movia aquele corpo, condutor de tudo: das mãos, dos dedos, dos números discados, do silencio quebrado, do barulho que não a deixava dormir, ainda que tivesse sono?
Ela nunca conseguiria responder. Afinal de contas, nunca soubera mesmo explicar suas atitudes, seus anseios, suas carências, suas fraquezas e, acima de tudo, a insônia que não a deixava dormir sem antes impulsioná-la a fazer coisas que ela jamais justificaria ou entenderia.
Felizmente, de um canto escuro do quarto, num ruído tão irritante quanto o do telefone da rua, o despertador anunciou quatro horas da manha. Era a ordem que ela esperava. De súbito, ela parou, colocou o telefone no gancho e, finalmente, adormeceu.
Mesmo que estivesse sob o efeito dos calmantes que tomava há anos, mesmo que estivesse livre da insônia que, feito doença genética, a incomodava desde a infância, mesmo que houvesse finalmente arrumado algum espaço em seu coração perturbado e confuso para uma tranqüilidade profunda, que a permitisse, por instantes, fechar os olhos e simplesmente esquecer, ainda assim seria impossível continuar quieta, alheia àquele barulho irritante, estridente, “acordante”, do telefone azul na madrugada.
Da janela, ela esperava. E era isso o que havia feito a vida inteira: esperado, pensava ainda mais inquieta. Esperava que alguém, finalmente, atendesse o telefone que gritava para que, também finalmente, ele calasse, adormecesse e a deixasse adormecer. Mas nada. Nem uma alma viva passava e os mortos, por certo, já não se incomodavam, já não se preocupavam em atender qualquer “chamado”, livres que estavam das tensões terrestres. E como ela os invejava!
Em sua solidão, insone, ela divagava imaginando o que faria uma pessoa, àquela hora da madrugada, levantar-se de sua cama, abrir mão de seu sono, de seus sonhos e ligar para o nada! Que esperança vã ou louca motivava aquela mão que discava para um telefone de rua! E o pior, de uma rua vazia, de pessoas e de casas, preenchida apenas por postes, sustentando luzes queimadas, e por solidão... a mais pura solidão! Que tipo de desejo dirigia aquelas mãos, que tipo de fraqueza continha seus dedos, que tipo de carência movia aquele corpo, condutor de tudo: das mãos, dos dedos, dos números discados, do silencio quebrado, do barulho que não a deixava dormir, ainda que tivesse sono?
Ela nunca conseguiria responder. Afinal de contas, nunca soubera mesmo explicar suas atitudes, seus anseios, suas carências, suas fraquezas e, acima de tudo, a insônia que não a deixava dormir sem antes impulsioná-la a fazer coisas que ela jamais justificaria ou entenderia.
Felizmente, de um canto escuro do quarto, num ruído tão irritante quanto o do telefone da rua, o despertador anunciou quatro horas da manha. Era a ordem que ela esperava. De súbito, ela parou, colocou o telefone no gancho e, finalmente, adormeceu.
Um comentário:
Amiga,
Simplesmente amei essa crônica!
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