sexta-feira, 16 de setembro de 2016

RESPOSTA AO RIO SÃO FRANCISCO



RESPOSTA AO RIO SÃO FRANCISCO

Hoje escolhi um rock das antigas
Imprimi no carro a velocidade da vida
No volume, o estrondo da realidade
Não olhei pelo retrovisor 
Que o que se foi fique realmente para trás
Quero ver a estrada ignorando certas placas
Mirando apenas o firmamento
Quero rasgar as roupas de dentro
Arremessa-las no rio que dentro de mim corre 
Que as vestes afundem
Mas minh'alma sempre boie 
Hei de seguir flutuando sobre o São Francisco
E relembrando o que disse Clarice:
A vida, não é de se brincar com ela,
Pois em pleno dia se morre.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

SOB(RE) AS ÁGUAS


SOB(RE) AS ÁGUAS

Às vezes 
Desejo a sensação do mundo submerso
Sem som, 
Sem teto,
À mercê dos corais
Imitando suas cores
Meu olhar para o alto 
Sem sonhos, apenas alvo:
O sol sobre a coluna d'água
Claraboia distante e intocável 
Filtro de raios e, quem sabe, dores.


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

AUTÓGRAFOS





ESQUADROS já está à venda no site da Editora Palavras, Expressões e Letras - PEL (www.editorapel.com.br)

Quem tiver interesse, poderá informar e terá seu livro autografado com todo carinho.

Espero que leiam e, sobretudo, ultrapassem os "Esquadros" que se interponham em seus caminhos.

Com apreço,

Marina Porteclis

terça-feira, 30 de agosto de 2016

LANÇAMENTO




ESQUADROS... Um livro para aqueles que, rompendo as molduras, as algemas, os viveiros, ousam ser inteiros.

Já a venda no site da PEL! (www.editorapel.com.br)

terça-feira, 9 de agosto de 2016

ÁGUA E VINHO

Nos olhos azuis, o brilho turvado pelo cansaço
Quebrar molduras, romper Esquadros, libertar-se
Tudo isso tem um alto custo
Em Casa Amarela, bairro pobre e populoso
Era única
Não pela compleição de estrangeira,
Tampouco pelo porte altivo e rosto quadrado,
Mas pela bandeira lá no alto hasteada:
"Eu LUTO".

Nos olhos negros, dias cor de chumbo, escudos
Sucumbir às molduras, podar a própria alma para caber nos Esquadros, desnaturar-se
Tudo isso tem um custo ainda mais alto
Em Casa Forte, bairro rico e glamouroso
Longe de ser única
Era apenas mais uma num exército de iguais
Não por vestir as mesmas roupas de marca de seus pares,
tampouco por dirigir a Range Rover protegida pelos óculos Prada,
Mas pela bandeira a meio-mastro hasteada:
"Eu FUJO".

ESQUADROS à vista! Lançamento: agosto de 2016.

terça-feira, 26 de julho de 2016

ESQUADROS




ESQUADROS


Com felicidade, anunciou: em agosto lançarei meu próximo romance intitulado ESQUADROS pela Editora Palavras, Expressões e Letras - PEL.

Ao ensejo, também aviso: é um livro para aqueles que, libertando-se das molduras, das algemas, dos viveiros, ousam ser inteiros.

terça-feira, 19 de julho de 2016

SE PUDER SEM MEDO


"Se puder sem medo"
Plagiando Oswaldo Montenegro no título 
Sugiro:
Olhe mais para frente, 
Pois só assim se vê genuinamente vida
Ao lado, está a vida alheia 
Atrás, a não mais vivida.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

LEVEZA

Leveza
Essa corrente d'água que substitui o sangue quente das veias;
Essas asas azuis que acariciam nosso rosto afastando a ventania;
Esse chá adocicado e santo que regenera nossos lábios e nos faz deglutir poesia;
Essa avenida vazia e larga onde apenas flores passeiam
Sem rumo, sem agonia.

Leveza
Essa miragem que se desfaz diante da lupa dos dias
É ela que procuro e que me procura
Enquanto seguimos,
Díspares,
Nossas tormentosas trilhas.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

LUTO


As mulheres abrem suas almas
Doam seu sangue
Devassam seus sonhos
Por um homem

Enquanto isso
Dezenas de malditos
Abrem suas pernas
Fazem jorrar seu sangue
Devassam sua carne
Para provar o que a outros homens?

Quão sombrio ainda pode ser o machismo nessa Era de fomento?
O que se há de fazer além de um estampido coletivo em lamento?
Não basta vestir luto:
Lutemos!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

TÃO POUCO




Quando criança,
Tudo o que precisamos para ser feliz
É de uma cabana de pirata no meio da sala.
Dentro:
Duas almofadas,
Um gibi com a metade das páginas,
Um carro de plástico.
O resto do espaço, preenchemos com sonhos
E isso nos basta.

Adultos, crescemos por fora, mas encolhemos por dentro.
Queremos um apartamento com várias suítes,
Mais de cem metros quadrados,
Sala para três ou quatro ambientes.
Dentro:
Cama king size,
TVs de Led,
Clássicos literários
E seres-humanos para nos servirem o café da tarde
Como se não tivéssemos mãos e pernas para buscar o que queremos
O resto...
Que resto? Não há mais espaço.
Tudo queda abarrotado e há um imenso vazio por dentro.

De casa cheia e sonhos ocos,
Nos tornamos adultos
E nos consideramos ricos,
Com tão pouco.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

MICROCONTOS: Uma micro (?) explicação


MICROCONTOS

 − Uma micro (?) explicação −

Começo com uma confissão. Nunca me saí bem com resumos. Não consigo nem relatar um evento com brevidade numa mera conversa regada a café. Juro! Enfim, encurtar os caminhos, ainda mais os escritos, não vinha sendo meu estilo até que... resolvi (re)criar os MICROCONTOS.

Bem por isto, talvez eles sejam apenas uma forma de eu me policiar, de eu aprender a usar menos palavras e, ainda assim, traduzir grandes momentos.  Resumindo − sim, agora essa é a meta, acreditem! −, tentarei criar histórias com enredos, cenários, personagens e até diálogos de maneira rimada e curta, sem deixar escapar o que realmente importa e todos procuram: a emoção. Espero que vocês e eu encontremos algum êxito. Afinal, encurtar também pode fazer bem aos olhos míopes e coração.

Com apreço,

M. PORTECLIS (já que é para abreviar...)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

ÓDIO CONSUMADO


 

 Seus namorados eram amigos

Apenas por isto se encontraram

Não fosse a afinidade entre eles

Elas jamais teriam se afinado

 

Iam a praia todo domingo

Os dois, até tarde, surfavam

Elas ficavam na areia

Sem lamentar a ausência de ambos

Nadavam, isto sim, em seus próprios diálogos

 

Eram muito diferentes

Bruna natural, extrovertida, desinibida

Usava biquines minúsculos,

Segura que era do próprio corpo

Trabalhado tanto quanto seu espírito

 

Carol, cheia de manias

Protetor solar, óculos escuros, maiô clássico

Tinha medo não apenas do sol: da vida

 

À noite, em restaurantes caros,

Os quatro tomavam vinho

As duas, bebiam-se nos olhares

Falavam-se sem palavras

Enquanto o namorado de uma criticava certo carro

E o outro, considerava-o "uma máquina"

 

No cinema, sentavam-se intercaladas

Mas as frases que mais marcavam Bruna

Eram justamente as que, durante o jantar, Carol citava

 

Nunca exageravam nas bebidas

Mantinham a distância necessária

Até que numa sexta inusitada

Decidiram ir a certa boate

 

O show era de uma stripper festejada

Conhecida por suas curvas e audácia em todo o meio masculino

Na impossibilidade de irem só os rapazes

Resignados, mas convictos

Levaram as namoradas

 

A vodka gelada era servida, sorvida

E com exagero por todos

Os corpos quentes, menos pelo calor, mais pelo desassossego

Cada um com seus arroubos

 

Os rapazes haviam se afastado

No bar, pediam outra rodada

Bruna olhava a moça seminua sobre o palco

Carol, captando o momento, valendo-se da embriaguez que libertava

Aproximou-se da outra, sentindo-lhe o perfume

E perguntou, quase roçando-lhe os lábios:

 

"Você já beijou outra garota?"

A resposta veio certeira:

"Não, Carolina"

"Mas lhe beiraria inteira"

"E disso você já sabe"

 

Atônita, mas excitada, Carol continuou:

"Pois eu odeio essa vontade insana"

"De morder esses seus lábios"

"Odeio o fogo que me arde quando você me olha assim "

"Odeio, sobretudo, ver suas mãos e imaginar"

"O  quanto delas cabe em mim"

 

Bruna riu sem disfarce

Por baixo da mesa,

Com a firmeza necessária,

Tocou a perna de Carol,

Já inteiramente arrepiada,

E continuou o passeio,

Sem pressa, só devaneio,

Até a renda molhada

 

Ao constatar o mútuo desejo

Bruna ordenou, sem qualquer recato:

"Pois vamos sair agora"

"Quero sentir todo esse ódio"

"Dentro de um generoso quarto."

 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

ALAMEDA


 

ALAMEDA

 

O rapaz reclamou à amiga:

"Não sou bom com as palavras"

"Apaixonei-me por Amanda"

"Ajude-me a conquistá-la"

 

Cíntia, nem sempre contida

Propôs então ao rapaz:

"Criemos logo um e-mail"

"Um bom título"

"Sem rodeio"

"Será esse o melhor meio"

"Eu escrevo por você"

"Que ao fim há de assinar"

 

O acordo foi selado

E-mail, envio, silêncio

Um, dois, três dias

No quarto, uma resposta

Nada além de uma linha

"É difícil acreditar"

"Que alguém com tantos músculos"

"Possua flores no olhar"

 

O calendário foi virando

Encontros na faculdade

O rapaz sorria de longe

Amanda ensaiava reciprocidade

 

Nas madrugadas, os e-mails eram longos

Sinceros, quase íntimos

Pactuavam sentimentos, sentidos, sonhos

Poeira, escuridão, desabrigo.

 

Era noite, despedida

Mais uma turma findava

No pátio da faculdade

Entre alamedas floridas

Amanda cruzou com Cíntia

E puxou-a pelo braço

 

"As flores que recebo dia a dia"

"Todas em forma de palavras"

"Sei que são suas, não minta"

Cíntia olhou-a, calada

 

Nos olhos de uma a outra se refletia

Vertigem e perfume exalavam

Cíntia afastou-se aturdida

Não sem antes confessar:

"Não fosse por amizade a Renato"

"Mergulhava agora em sua boca "

"Como já mergulho em seu olhar"

 

Amanda ousou, aflita

Convencer a outra jovem:

"Com tuas mãos cultivaste tantas flores"

"A cada palavra escrita"

"Com tuas mãos, colha-as agora"

"Não é Renato quem quero"

"Cada pétala que senti"

"Vejo apenas em seus olhos"

 

Lábios tocaram-se em sincronia

Sorveram-se, provaram-se

Macios feito flor

Da alameda esquecida

Que renascia, colorida

Ao ver brotar mais um amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O PERCURSO



A moça fechou atrás de si a porta
Nos lábios trêmulos um pedido:
"Beije-me agora"
"Basta de tempo perdido"

A outra moça pôs-se assustada
Apesar de ser lésbica assumida
E ter enfrentado hordas de fantasmas
Nos labirintos da vida

Mergulhando nos olhos claros
Só pode dizer num sussurro:
"Você não está preparada"
"Pense bem em seu futuro"
"É noiva, careta, mimada"
"Se te beijo, te assusto"

Em resposta, a moça casta
Despiu-se do vestido de seda
O corpo nu oferecido
Coberto só de certeza
Na ordem, o tom foi seguro:
"Comece beijando meus pés"
"Até alcançar minha boca"
"Garanto que me acostumo."

Abril/2016

MARINA PORTECLIS

quarta-feira, 13 de abril de 2016

PÉTALA POR PÉTALA


Os cabelos ruivos, sob o sol, brilhavam ainda mais

Nos olhos verdes, lagos translúcidos

Maculados por ondas de um passado que não lhe deixava em paz

Ao virar a esquina, frutas vermelhas

Não as da barraca de feira, em meio ao mercado

Eram lábios rubros e fartos

Da moça que, alheia a outra, vendia flores

Entregou uma nota por duas rosas

De troco, recebeu moeda e sorriso

Com delicadeza, pôs uma das flores nos próprios cabelos

Com ousadia, esticou a outra para a vendedora, dona de olhos negros e expressivos

Surpresa e um rosto corado, foi tudo o que a compradora viu

Nenhuma promessa, nenhum recado

Nesgas do passado sombrio

Longos segundos de uma ansiedade louca

A florista pegou a rosa ofertada, mas logo a devolveu:

"Prefiro que volte amanhã − nas entrelinhas, um "sempre" − para buscar outra"
 
E nunca deram adeus.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

CAFÉ


 
 
Líquido quente que nos serve a vida

A lua, da varanda, em seu escuro

refletida

 

O cheiro da infância

A ânsia da escola

Com café e pão

servida

 

A madrugada requentada pré-vestibular

 

O corredor do hospital vazio

Passos e copos plásticos trocados e substituídos

Café e alta e casa

Café e cura e par

 

Café com livro

Café contigo

Café comigo

 

Café

Líquido contido que nos serve o mar.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

ETERNIDADE RELATIVA



Prefiro ser vinho tinto,
Servido,
Sorvido,
Esquecido então
A ser taça eternamente fria,
Sujeita ao vazio
E ao chão.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

(RE)CICLO



Sou a água que escorre em minha face,
A boca que a captura.

Sou o vento que açoita meus cabelos,
As mãos que os coadunam.

Sou a terra que me suja as vestes,
A vontade que as despe.

Sou o fogo que queima minha alma,
E novamente a água.


quarta-feira, 30 de março de 2016

ENTREMEIO


 
 
De luz e sombra somos feitos
Translúcidos, difusos, escuros
Tudo ao mesmo tempo
Sim, não, talvez
Em um momento
Frações de inteiro
Inteiros de fração
Terreno inóspito e pleno
Que se estende eternamente
Inundado e seco
Do imperfeito à perfeição.

segunda-feira, 28 de março de 2016

SOBRE SALMÕES E NADOS




Meu Deus,
Fizeste-me um salmão!
E não é piada
Eis a justificativa:
Não nasci com guelras,
Nem barbatanas,
Tampouco escamas rosadas;
Mas com uma tendência infinda de nadar contra as águas
E isso me caracteriza

Ainda sofro com os humanos e animais à margem das ruas e da vida, para tantos invisíveis;
Ainda creio que a porta da escola deveria ser aberta antes da do presídio;
Ainda tento explicar que o amor que sinto não é melhor nem pior do que o amor dos casais híbridos;
Ainda Te vejo como um Pai e não um carrasco cheio de rancor e vícios;
Ainda me sinto sua filha apesar de tantos desdizerem, com olhares insanos, isto.

Como salmão que sou, continuo nadando contra as águas
Ao olhar para trás, sorrio
Que bom que a cada braçada me distancio de certos "humanos"
Que nadam sempre sobre seus enganos
Sem antever a mínima centelha
De que, adiante, há uma cachoeira.

segunda-feira, 21 de março de 2016

PÁSCOA




Eu vi um coelho na jaula
"Vende-se"
É Páscoa
O coelho teve preço,
Foi passado no cartão de crédito em três vezes,
E logo teve casa,
Comida,
Pseudo-amor.

Eu vi um coelho na calçada
Abandonado
O branco do pelo,
O vermelho do sangue,
O carro o traspassou.
Foi partido em mais de três pedaços,
Sentiu dor,
Debateu-se tentando renascer,
Mas teve um fim
É que a Páscoa também terminou.

terça-feira, 15 de março de 2016

FLEXIBILIDADE



Não quero mais cordas de aço
Embora ecoem mais alto,
Exuberantes,
Machucam.

Para tocar a vida,
Quero as de náilon,
De som mais baixo
E beleza mirrada,
Mas que, a gravidade, também atenuam.

Ando cansada das guerras,
Dos alardes,
Das ruas.
Quero um acordo de paz,
A clave mais doce,
A nota suave,
O timbre perfeito,
Um dueto.

Só por hoje,
(Finjo um domingo, tenho direito)
Troco o aço pelo náilon,
As espadas pelas plumas,
A desconfortável imensidão pelo berço estreito.

E exalto a flexibilidade,
Esse pêndulo entre vontades,
Que dói menos
Da ponta dos dedos
Ao fundo do peito.

quinta-feira, 10 de março de 2016

A-NORMALIDADE



Amei uma igual E dilaceraram meus sonhos, Rasgaram meu nome, A-normalizaram meu gosto. Das farpas, fiz agulhas Das intrigas, linha De meu orgulho, pontos Costurei-me outra Não marionete do mundo: Dona. Mesmo refeitos, Dispensei os sonhos, Concretizando-os Meu nome? Restaurei, dando-lhe complemento Meu gosto? Continua o mesmo A anormalidade é de quem não vê Que amar não fere, Não ofende, É o maior dos presentes, Senhor dos risos, não dos prantos, Torna-nos mais fortes, Inteiros, Valentes. Por isso Amei uma igual E, por ser o meu normal, Continuo amando.