sexta-feira, 22 de abril de 2016

ALAMEDA


 

ALAMEDA

 

O rapaz reclamou à amiga:

"Não sou bom com as palavras"

"Apaixonei-me por Amanda"

"Ajude-me a conquistá-la"

 

Cíntia, nem sempre contida

Propôs então ao rapaz:

"Criemos logo um e-mail"

"Um bom título"

"Sem rodeio"

"Será esse o melhor meio"

"Eu escrevo por você"

"Que ao fim há de assinar"

 

O acordo foi selado

E-mail, envio, silêncio

Um, dois, três dias

No quarto, uma resposta

Nada além de uma linha

"É difícil acreditar"

"Que alguém com tantos músculos"

"Possua flores no olhar"

 

O calendário foi virando

Encontros na faculdade

O rapaz sorria de longe

Amanda ensaiava reciprocidade

 

Nas madrugadas, os e-mails eram longos

Sinceros, quase íntimos

Pactuavam sentimentos, sentidos, sonhos

Poeira, escuridão, desabrigo.

 

Era noite, despedida

Mais uma turma findava

No pátio da faculdade

Entre alamedas floridas

Amanda cruzou com Cíntia

E puxou-a pelo braço

 

"As flores que recebo dia a dia"

"Todas em forma de palavras"

"Sei que são suas, não minta"

Cíntia olhou-a, calada

 

Nos olhos de uma a outra se refletia

Vertigem e perfume exalavam

Cíntia afastou-se aturdida

Não sem antes confessar:

"Não fosse por amizade a Renato"

"Mergulhava agora em sua boca "

"Como já mergulho em seu olhar"

 

Amanda ousou, aflita

Convencer a outra jovem:

"Com tuas mãos cultivaste tantas flores"

"A cada palavra escrita"

"Com tuas mãos, colha-as agora"

"Não é Renato quem quero"

"Cada pétala que senti"

"Vejo apenas em seus olhos"

 

Lábios tocaram-se em sincronia

Sorveram-se, provaram-se

Macios feito flor

Da alameda esquecida

Que renascia, colorida

Ao ver brotar mais um amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

Unknown disse...
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