ALAMEDA
O
rapaz reclamou à amiga:
"Não
sou bom com as palavras"
"Apaixonei-me
por Amanda"
"Ajude-me
a conquistá-la"
Cíntia,
nem sempre contida
Propôs
então ao rapaz:
"Criemos
logo um e-mail"
"Um
bom título"
"Sem
rodeio"
"Será
esse o melhor meio"
"Eu
escrevo por você"
"Que
ao fim há de assinar"
O
acordo foi selado
E-mail,
envio, silêncio
Um,
dois, três dias
No
quarto, uma resposta
Nada
além de uma linha
"É
difícil acreditar"
"Que
alguém com tantos músculos"
"Possua
flores no olhar"
O
calendário foi virando
Encontros
na faculdade
O
rapaz sorria de longe
Amanda
ensaiava reciprocidade
Nas
madrugadas, os e-mails eram longos
Sinceros,
quase íntimos
Pactuavam
sentimentos, sentidos, sonhos
Poeira,
escuridão, desabrigo.
Era
noite, despedida
Mais
uma turma findava
No
pátio da faculdade
Entre
alamedas floridas
Amanda
cruzou com Cíntia
E
puxou-a pelo braço
"As
flores que recebo dia a dia"
"Todas
em forma de palavras"
"Sei
que são suas, não minta"
Cíntia
olhou-a, calada
Nos
olhos de uma a outra se refletia
Vertigem
e perfume exalavam
Cíntia
afastou-se aturdida
Não
sem antes confessar:
"Não
fosse por amizade a Renato"
"Mergulhava
agora em sua boca "
"Como
já mergulho em seu olhar"
Amanda
ousou, aflita
Convencer
a outra jovem:
"Com
tuas mãos cultivaste tantas flores"
"A
cada palavra escrita"
"Com
tuas mãos, colha-as agora"
"Não
é Renato quem quero"
"Cada
pétala que senti"
"Vejo
apenas em seus olhos"
Lábios
tocaram-se em sincronia
Sorveram-se,
provaram-se
Macios
feito flor
Da
alameda esquecida
Que
renascia, colorida
Ao
ver brotar mais um amor.
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