sexta-feira, 1 de outubro de 2010

INCÊNDIOS (Poesia)

Se for para lutar, lutemos
Arregacemos as mangas!
Enfrentemos o fogo!
As brasas, o ardor, a lágrima, o olho
Tudo se turva
O calor no rosto
As faces rubras
A vida se descuida
A fumaça tinge o corpo
A alma torna-se cinza
Inala-se medo
Oscila-se entre o ir e o voltar
Vai-se
Queima-se
Sente-se dor
Mesmo com a dor, se vence a batalha
As feridas saram
Saram os medos

Sobre o antigo aceiro, o tempo passa
Sob os carvões, outrora labaredas, cresce o verde
Nas fendas cavadas pelo caos passa a correr um vale
Novas águas lavam nosso corpo
Inala-se o cheiro da chuva, misturado ao perfume das árvores
E o que se faz deste novo cenário?
Arregacemos as magas de novo?
Não! Ainda é cedo!

É preciso celebrar a vitória antes da nova luta
É preciso pendurar a rede na varanda tão desejada
É preciso deixar-se embalar pela felicidade conquistada

Não façamos de nossa existência perene palco de busca
Não transformemos nossas chegadas em partidas imediatas
É preciso mergulhar no vale, colher a fruta, saboreá-la
Para que a vida não se torne um eterno incêndio
Que arde por fora e por dentro
Feito de fogo ou de águas.