Com suas “peculiaridades”, com sua altivez de enfrentar leões de peito aberto, de acarinhar dragões que cospem fogo, sem manter qualquer mangueira por perto, sem avistar qualquer vestígio de água, sem armas, ela terminou tornando-se ilha, uma pequena e solitária ilha, perdida na imensidão homogênea do exército de iguais, cercada por todos os lados daquilo que lhe era oposto, assim como a terra se contrapõe bruscamente à água. Ela era diferente. Ela era ela, diferente dos demais.
E toda aquela igualdade a cansava, a entristecia, a afrontava, a enlouquecia, a tornava ainda mais “estranha” num ninho de roupas iguais, pensamentos iguais, atitudes iguais: sociedade. Definitivamente ela não só era, como se orgulhava de ser diferente, de ser “gente”, sensível, crédula, excêntrica, de ainda ter ideais.
Ela, que era pela minoria, se sentia perplexa diante da crueldade humana, do descaso, do desprezo por aqueles que moravam na rua, que dormiam com fome. Chegava a sentir fome por eles, sede por eles, fé por eles, de que um dia tudo iria mudar. Se via um cachorro magro, passeando pela sarjeta, pensava no quanto a vida poderia ter sido melhor e mais justa até mesmo para ele. Se via uma criança dormindo na calçada, seus olhos marejavam d’água e ela sofria, sofria sem sentir-se ridícula por isso, sem saber de sua raridade num mundo cão, preenchido por pessoas que sequer notavam o cachorro, a sarjeta, a criança, a calçada, a vida, sub-vida, que tanto lhe feria.
Até que um dia ela cansou. Afinal, a diferença também cansa. E o olhar de reprovação dos iguais passou a incomodá-la; e suas roupas já não era tão confortáveis, já não lhe davam a mesma segurança; e as calçadas já não pareciam tão duras, as sarjetas, tão sujas, o cachorro tão magro, a criança tão triste; e o orgulho de sentir-se diferente, o mistério de ser “estranha”, cedeu espaço a um ímpeto, no início até irracional, de ser igual, de sentir-se igual. Foi então que tudo mudou e ela, sem saber direito porque, já não se sentia pedaço de terra, consistente, cercada de água por todos os lados, mas poça discreta, flexível, cercada da terra que, aos poucos, lhe absorvia, lhe corrompia, lhe igualava. E, de repente, ela que odiava modismos já usava a calça da moda, a mesma que vestia o exército de grãos, diametralmente iguais, que lhe sugavam; e, de repente, ela que gostava de ser ela já era o ser comum, o outro, o algoz, o “normal”; e, de repente, ela que pregava a diferença sumiu de tão igual.
E toda aquela igualdade a cansava, a entristecia, a afrontava, a enlouquecia, a tornava ainda mais “estranha” num ninho de roupas iguais, pensamentos iguais, atitudes iguais: sociedade. Definitivamente ela não só era, como se orgulhava de ser diferente, de ser “gente”, sensível, crédula, excêntrica, de ainda ter ideais.
Ela, que era pela minoria, se sentia perplexa diante da crueldade humana, do descaso, do desprezo por aqueles que moravam na rua, que dormiam com fome. Chegava a sentir fome por eles, sede por eles, fé por eles, de que um dia tudo iria mudar. Se via um cachorro magro, passeando pela sarjeta, pensava no quanto a vida poderia ter sido melhor e mais justa até mesmo para ele. Se via uma criança dormindo na calçada, seus olhos marejavam d’água e ela sofria, sofria sem sentir-se ridícula por isso, sem saber de sua raridade num mundo cão, preenchido por pessoas que sequer notavam o cachorro, a sarjeta, a criança, a calçada, a vida, sub-vida, que tanto lhe feria.
Até que um dia ela cansou. Afinal, a diferença também cansa. E o olhar de reprovação dos iguais passou a incomodá-la; e suas roupas já não era tão confortáveis, já não lhe davam a mesma segurança; e as calçadas já não pareciam tão duras, as sarjetas, tão sujas, o cachorro tão magro, a criança tão triste; e o orgulho de sentir-se diferente, o mistério de ser “estranha”, cedeu espaço a um ímpeto, no início até irracional, de ser igual, de sentir-se igual. Foi então que tudo mudou e ela, sem saber direito porque, já não se sentia pedaço de terra, consistente, cercada de água por todos os lados, mas poça discreta, flexível, cercada da terra que, aos poucos, lhe absorvia, lhe corrompia, lhe igualava. E, de repente, ela que odiava modismos já usava a calça da moda, a mesma que vestia o exército de grãos, diametralmente iguais, que lhe sugavam; e, de repente, ela que gostava de ser ela já era o ser comum, o outro, o algoz, o “normal”; e, de repente, ela que pregava a diferença sumiu de tão igual.
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