terça-feira, 8 de julho de 2008

NATUREZA MORTA (Poesia)

Eu disse,
Mas ninguém ouviu
Eu disse tanto!
E ainda assim ninguém ouviu meu canto,
Tampouco meu pranto,
Quando, indignada com a surdez do mundo,
Chorei

Eu senti,
Mas ninguém sentiu
Eu senti tanto!
E ainda assim ninguém ousou se pôr ali:
No meu canto
Onde, inutilmente, finquei meus pés
E minha natureza morta
Com os frutos verdes
Dispersos e estampados em minha pele jovem
Ainda sem tatuagens e pontos
Naquela época em que o encanto se perdeu

E assim,
De encanto perdido,
Perdida de mim mesma
Ou daquela que ousava me ser
Finalmente, me encontrei

Só então eu disse o que a surdez do mundo pôde escutar
E senti o que o mais anestesiado dos seres sentiu também
E fiz de minha natureza morta frutas maduras,
Doces, macias, puras
Pintadas pelo mais fiel dos pincéis:
O que trago nas mãos
E pelo mais fiel pintor:
O que sou.

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