sábado, 5 de julho de 2008

DIVAS DO CAOS (Conto Erótico Feminino)


Eram quase sete horas da noite quando o porteiro interfonou.

- Dona Lorena, seu amigo acabou de chegar.

Antes de sair, Lorena olhou-se rapidamente no espelho. Passou as mãos pelos cabelos curtos e eriçados, arqueou as sobrancelhas finas, respirou fundo e chamou o elevador, praguejando baixinho pelo atraso de Cartaxo, que só a deixara mais ansiosa.

Ela detestava ser o centro das atenções, mas naquela noite não poderia ser diferente. Depois de muitos anos, muitos planos e pedidos, finalmente ela decidira expor seus quadros na galeria do amigo.

Cartaxo não era nada convencional e de outro modo não poderia ser sua galeria. Conhecida como um dos ambientes fashions da cidade, ela era um misto do que há de moderno e excêntrico. Era um espaço cultural não só voltado às pinturas, esculturas, fotografias e outras coisas do gênero, mas também à gastronomia. Possuía três salas para exposições, um restaurante mexicano, um coreano, um japonês e um italiano, além de uma pequena creperia, que atraia desde as pessoas mais “cabeças” às mais finas da cidade. No centro, havia um jardim de plantas igualmente excêntricas, algumas podadas, nos formatos mais esdrúxulos possíveis, outras que por sua própria natureza e formato dispensavam qualquer interferência humana. Naquela noite, a galeria, em outras ocasiões tão familiar e aconchegante para Lorena, lhe causou um certo gelo no estômago. Era ansiedade.

- Minha querida, você está mais branca que o de costume! Está se sentindo mal?

- Não, meu querido – retrucou Lorena agoniada – estou me sentindo exposta na sua galeria, junto com meus quadros e minhas fantasias.

E não poderia ser diferente. O motivo das pinturas de Lorena era, realmente, peculiar, assim como ela. Os quadros, entre traços disformes e coloridos, retratavam sempre mulheres fazendo amor, o que geralmente era captado somente pelos olhos mais aguçados ou “conhecedores da matéria”, por assim dizer.

Suas mãos começaram a readquirir a temperatura normal apenas quando ela chegou à sala principal onde estavam as pinturas e percebeu o olhar de satisfação das pessoas que ali já as apreciavam. A maioria visivelmente admirava a sua arte, algumas por visualizarem com perfeição o que ela trazia, outras exatamente por não enxergarem um palmo diante de seus narizes, contentes que estavam com a mistura das cores e dos traços. E era isso o que ela queria.

Mais relaxada, Lorena circulava entre as pessoas, grande parte seus conhecidos e amigos, enquanto recebia os elogios, com a sensação de missão cumprida. Quase todos os quadros, em menos de duas horas, tinham sido vendidos e ela pensava consigo mesma como era numerosa e generosa a “Irmandade”.

Já era tarde da noite quando uma pessoa, em especial, lhe chamou a atenção. Era uma jovem com aspecto formal e delicado cujos óculos de grau lhe tiravam parte da juventude, mas lhe emprestavam certa maturidade. Os cabelos lisos, escuros, presos de maneira suave, lhe deixavam transparecer a brancura do pescoço, do colo juvenil e as pequenas orelhas, que reluziam ornamentadas com um lindo e discreto brilhante, gentilmente talhado, beirando a perfeição, assim como a imagem da dona. Ela estava absorta, observando o quadro que Lorena elegera como seu preferido. Por instantes, diante da beleza e singularidade daquela expectadora, o frio na barriga, o suor das mãos, o rubor das faces de Lorena quiseram novamente habitar o espírito da pintora, mas ela não permitiu. Olhou em outra direção.

A exposição fora um sucesso e Lorena comemorava com Cartaxo e seus amigos mais chegados na Creperia. Todos os quadros haviam sido vendidos, inclusive o que ela mais gostava. Era uma sensação de desapego que ela jamais havia experimentado. Mas ela sabia que nada daquilo lhe pertencia, nem ela queria. Ela pintava para o mundo o que dentro dela já havia. Por incrível que parecesse, mais difícil do que abrir mão de suas pinturas fora, sem dúvidas, abrir mão da imagem da moça que parecia fascinada pelas “Divas do Caos”, seu quadro favorito. Foi com o coração apertado que ela viu a “srta. Perfeição” ir embora, ao lado de uma senhora chique e sofisticada, que deveria ser sua mãe, cuja imagem lhe pareceu familiar.

Depois de algumas garrafas de vinho e muitas risadas, Lorena voltou para casa e dormiu. No sono, muitas outras pinturas foram confabuladas.

Os meses se passaram. Nada de novo, nada de bom. O corre-corre parecia sugar a arte de Lorena. Desde aquela noite ela não conseguira colocar na tela as imagens que lhe visitavam em sonhos. Uma sensação de esvaziamento lhe inquietava. O ano estava apenas começando e ela já se sentia cansada. Havia decidido continuar dando aulas de pintura, pelo menos durante aquele ano, para poder terminar de pagar seu apartamento. O jornalismo não estava lhe rendendo como o esperado. Na verdade, estava farta de seu emprego, das pessoas de lá, das fofocas. Ensinar pintura lhe trazia mais prazer. Mas, até pintar, ultimamente, estava complicado. Era, sem dúvidas, uma crise...talvez a dos trinta, ponderou inquieta.

Com esse pensamento, Lorena riu e entrou na sala. Lá estavam os mesmo oito alunos e todos a cumprimentaram com entusiasmo. Ela era querida, isso ela não poderia negar.

- Boa noite, meus amores!

- Boa noite, Tia Lorena! – responderam em uníssono e no mesmo tom de brincadeira de sempre. A história de ser chamada de “tia” pelos alunos, a maioria mais velhos do que ela, já não lhe irritava. Ela já sorria com o título, escolhido para provocá-la.

Cada um de frente para sua tela, com os temas dispostos, as tintas e pincéis à espera, a professora supervisionando e as idéias soltas pela sala, a aula transcorria sem maiores novidades. Foi quando uma voz suave veio arrancar a atenção de todos e, principalmente, da “tia Lorena”, vindo da porta:

- Desculpe o atraso, posso entrar?

Era uma das “Divas do Caos”, a “Srta Perfeição”, talhada feito brilhante, esculpida, lapidada, linda e, agora, aluna de Lorena. A “tia” quase caiu para trás. “Era uma maldade do destino”, foi tudo o que ela pôde pensar. Nem mil rezas, nem mil santos, nem mil mandingas, nem mil promessas a trariam ali. Só podia ser obra do Satanás! Afinal, era tudo o que lhe faltava: sentir-se envolvida por uma de suas alunas. Isto, definitivamente, lhe retiraria a paz que experimentava, ao menos, em sua sala de aula. Mas, intimamente, seus diabinhos festejaram, com cautela, mas festejaram. Pois, apesar de saber que a “novidade” poderia lhe trazer problemas, uma parte dela adorou a chegada.

Com dificuldade, ela cuidou de não demonstrar absolutamente nada do que se passou em sua cabeça naqueles breves instantes. Saudou a nova aluna de maneira calma e formal. Nem ela soube como fora capaz de tamanho disfarce.

O nome dela era Sofia. Lorena apresentou-se, apesar de a moça demonstrar que já conhecia seu trabalho. Aliás, fora este um dos motivos dela está ali, explicou a aluna, entre a timidez e a objetividade, olhando a professora por detrás dos aros escuros dos óculos, que a separavam do mundo, dando-lhe um ar meio inatingível.

Lorena sentiu-se embaraçada. Ela, de perto, parecia mais ainda o que, realmente era: uma menina, beirando os dezenove anos, que deveria saber pouco sobre a vida, sobre as armadilhas, sobre os desenganos. Enquanto Lorena, que na presença de Sofia chegou a se sentir realmente “tia”, já era uma mulher, quase passando dos trinta, cansada de saber de tudo e de ainda mais um pouco, capaz de despertar o interesse e o desinteresse dos outros, conforme sua escolha. Mas, não foi preciso muito para sentir que, com aquela menina, ela não ousaria usar de seus artifícios.

A aula transcorreu “normalmente”, se é que se pode considerar normal uma professora, antes falante e altiva, naquela noite falando cuidadosamente, medindo palavras e gestos, para não espantar a “diva”, para não trincar o brilhante, para não demonstrar a mistura de cores que se espalhavam em sua cabeça, a quentura que lhe fervilhava o corpo. Se os outros alunos perceberam, “tia Lorena” não quis nem saber, o importante era que Sofia não percebesse, como de fato não percebeu.

Um mês se passou e Sofia não faltou a uma aula sequer. Sempre atenta, tímida e discreta, demonstrava cada dia mais interesse pelas lições da professora. Lorena, por sua vez, já não se sentia tão desconfortável diante de sua presença, já conseguia gesticular com naturalidade, já não se preocupava em “dar bandeira”, já não evitava usar suas camisas esportivas e despojadas, já não se importava de rir alto das brincadeiras dos outros alunos e, aos poucos, percebia que isso fazia com que Sofia se aproximasse mais. Quem sabe, pensava Lorena, não era ser “diferente” o seu charme, pelo menos aos olhos de Sofia?

Lorena era uma mulher bonita, isto era um fato. Mas, definitivamente não era uma mulher “delicada”. Na verdade, seu porte, sua firmeza, suas mãos longas e bem feitas, suas sobrancelhas arqueadas, seus cabelos vermelhos, curtos, lhe emprestavam um ar entre rude e altivo. Sofia não sabia definir o que mais admirava na professora: sua beleza ou a sensação de que ela precisava pouco desta para fazer-se interessante! Sabia apenas que sentia algo diferente sempre que trocava algumas idéias com Lorena. Era como se, por uns instantes, ter sua atenção fosse o que havia de mais importante. Mais importante do que aprender a misturar as cores, mais importante do que saber escolher as tonalidades, mais importante do que aprender a manipular os pincéis que se espalhavam sobre a mesa.

Cada dia as duas se tornavam mais confidentes, muito embora, para tanto, se valessem mais de olhares do que de palavras. Fato é que elas se olhavam bastante. Em algumas vezes, os olhares eram rasteiros, breves, de esgueira, em outras eram longos, desconcertantes, diretos, daqueles que falam mais do que mil palavras e são capazes de causar vertigem, quando se aprofundam e se prolongam.

Entretanto, Lorena ainda tinha receio cada vez que Sofia tentava se aproximar para perguntar-lhe coisas pessoais, do tipo, qual seu quadro e pintor preferidos, que tipo de lugares ela freqüentava, quais as músicas que ela gostava... Porém, naquele final de aula, Lorena não teve como escapar:

- Bem, pessoal, por hoje chega, cada um para suas casinhas que eu tenho uma exposição maravilhosa para ir! Beijos – pronto, bastou seu comentário ingênuo para que Sofia se chegasse com uma pergunta.

- Lorena, por acaso essa exposição à qual você se referiu é a de fotos de Giapaolo Kundera, na Galeria?

- Exatamente! – disse Lorena, forçando naturalidade e reprimindo-se internamente.

“Eu e minha boca”, pensava, inquieta, sem saber o que fazer com as mãos, já confusas entre os pincéis que tentava guardar em sua maleta. Por um instante de “insanidade” – ou sanidade, depende do ponto de vista de cada um – ela parou, olhou nos olhos de Sofia, respirou fundo e disse de supetão:

- Quer ir comigo?

Ao término da frase, a maleta abriu-se, deixando suas tintas especialmente diluídas espatifaram-se nos pés de ambas, em degrades inimagináveis. Desenhos psicodélicos escorreram pelas calças de Lorena Velasques, numa amostra da mais pura arte do atropelo e do desastre! Os pincéis, que estavam quase arrumados na maleta, agora pediam socorro, afogando-se no lamaçal de tintas! “Oh, Deus, enquanto Sofia é uma das ‘Divas do Caos’ eu sou o caos em pessoa!”, pensou Lorena, enquanto se abaixava para arrumar a bagunça. Sofia fez a mesma coisa e a cabeça de ambas se chocaram levemente. As duas riram e se ergueram.

- Que horror, Sofia, me desculpe! – falou Lorena constrangida, enquanto passava as mãos pelos cabelos lisos, a esta altura, desalinhados.

Mas os dedos da pintora também estavam em festa, todos pintados, e, como não podia deixar de ser, um toque a mais no desastre: os cabelos e a testa de Lorena também passaram a fazer parte do caos agora! Sofia, entre o riso e o cuidado, tocou a testa da pintora com o polegar, numa tentativa de limpar o “azul” que escorria sutilmente por sua fronte, quase chegando à sobrancelha. Depois, já sem o riso nos lábios, com uma expressão mais séria, cautelosa, Sofia, suavemente, tocou o “amarelo” que se misturava com o “vermelho” dos cabelos finos de Lorena, ajeitou a mecha sedosa que insistia em encobrir os olhos da professora, prendendo-a atrás de sua orelha, deixando a “mulher madura de trinta”, a “tia”, “a voz da experiência”, envergonhada feito uma adolescente na festa de seus quinze anos.

- Nossa, Lorena, até gostaria de ir, mas, desse jeito, se formos, as pessoas vão pensar que fazemos parte da exposição!

Lorena não sabia se sentia alívio ou tristeza, se ria ou ficava quieta. “Ora, que droga, sem querer ela havia feito o convite, sem querer ela havia estragado tudo!” Mas Sofia continuou...

- A não ser que passemos na minha casa, que é logo aqui perto. Eu posso te emprestar uma roupa, nós tomamos um banho, desfazemos a “arte” que você fez e pronto! Vamos?

Sofia tinha o dom de simplificar as coisas. Falava sem medo, sem receios, sem cautelas. Lorena não sabia exatamente o porquê. Ou ela era realmente ingênua e não percebia que Lorena era “entendida” ou simplesmente ela não se importava com isso. De um jeito ou de outro, Lorena resolveu não estragar mais uma vez as coisas. Os diabinhos internos que festejassem. Ela concordou.

O prédio de Sofia era num dos bairros mais caros da cidade e, como todos os daquela área, era luxuoso e imponente. Apesar de simples no jeito de se vestir e de se portar, a menina era rica, uma verdadeira “Bonequinha de Luxo”, com direito à beleza de Audrey Hepburn e tudo! Ela morava na cobertura. Lorena ficou sem graça. Sofia puxou-a pela mão.

- Não me diga que a Srta. Lorena Velasques está com vergonha! Bobagem, minha mãe não está em casa...e mesmo que estivesse, ela não morde não! Venha!

Lorena sentia-se mais nova do que a menina de dezenove anos que a arrastava para o quarto. Ela precisava recompor-se. Chegaram. Então ali estava o aconchegante “Mundo de Sofia”, mas não havia tempo para filosofia. Na verdade, Lorena não queria pensar, muito menos filosofar sobre aquele momento. Mal conseguia respirar! As duas não tinham muita intimidade. Aliás, somavam pouquíssimas palavras, conversas entrecortadas na sala de aula e agora, lá estavam elas, no mesmo quarto! E Sofia parecia mais natural do que nunca. Mais linda do que nunca. Estendeu-lhe uma toalha, uma calça “cabeça” que fez Lorena imaginar que Sofia deveria enxergá-la assim, uma blusa de malha e mais algumas palavras:

- Quer mais alguma coisa?

Lorena quis responder “VOCÊ”! E como ela queria! Queria tanto que chegava a sentir-se assustada com isso, sufocada, aturdida, culpada! Mas ela queria! E como! Porém, limitou-se a menear a cabeça, dizendo que não, não queria mais nada.

A ducha quente nas costas, a tinta escorrendo pelo rosto, pelo corpo, pelos cabelos de Lorena e a sensação de estar ali, naquele pequeno espaço, onde sua “Diva do Caos” habitava, ou melhor, onde ela se despia, se banhava, se tocava, lhe dava uma sensação indescritível! Lorena sentia-se excitada, tonta, ardente. Saiu do banho, enxugou-se e, com as mãos, desembaçou parte do espelho para olhar-se nos olhos e dizer-se: “cuidado, dona Lorena, cuidado com o que pensa, com o que diz e, mais ainda, com o que faz!”. Vestiu-se e saiu do banheiro. Sofia a esperava deitada de bruços na cama, lendo um livro.

- Você ficou bem de mim! – falou Sofia, brincando.
- É, também achei – retrucou Lorena rindo, passando os dedos espaçados pelos cabelos molhados.

Sofia fechou o livro, pegou a roupa que havia escolhido, deu um beijo no rosto da professora e foi para o banheiro, deixando Lorena em choque. Com as pernas bambas, o coração aos saltos, sentou-se na cama e esperou a menina terminar seu banho, terminar seu plano, isso não podia ser verdade! Somente naquele instante, Lorena viu “As Divas do Caos” penduradas na parede do quarto, rindo de sua cara de palerma. Então Sofia o havia comprado! Ela deveria saber o significado daquela pintura, deveria enxergá-la, deveria entendê-la e, mesmo assim, a escolhera! Isso era um bom começo...

As duas foram para a Galeria. Riram bastante, viram todas as fotos mais de uma vez, comentam sobre todas e sentiram-se ainda mais próximas. Sofia parecia feliz como Lorena nunca a havia visto antes. Depois, sentaram-se na crepreria, numa mesinha de canto e pediram uma garrafa de vinho tinto. Naquela ocasião, Lorena já se sentia a mulher de trinta diante da menina de dezenove. Apesar de Sofia ser muito culta, ter um gosto primoroso por pintores, escritores, enfim, artistas que exigem uma certa maturidade para serem apreciados, ela, sem dúvida, ainda tinha muitas coisas de criança, fosse pelo riso, fosse pelo olhar sincero, de admiração, que lançava para Lorena cada vez que ela lhe contava um pouco sobre sua vida, sobre suas coisas de “tia”. Num certo momento, enquanto Lorena lhe contava sobre suas primeiras viagens, de mochila nas costas, sem dinheiro e sem fronteiras, rumo às exposições e galerias de artes mundo a fora, já na segunda taça de vinho, Sofia tirou os óculos e olhou Lorena fundo nos olhos, dizendo:

- Você me fascina!

Poucas palavras, mas ditas de um modo tão penetrante, tão envolvente, que Lorena foi incapaz de continuar a falar. Limitou-se a admirar Sofia, agora despida das lentes que a tornavam meio inacessível. Ela sim, era fascinante. A menina mais mulher que Lorena havia visto. A pintura mais concreta, a escultura mais perfeita, o “diabo” em figura de gente, por assim dizer. A noite deveria acabar por ali. Lorena deixou Sofia em casa com poucas palavras, com a cabeça rodando de idéias, com os cabelos entrelaçados de dúvidas e o coração descompassado de pressa.

Nas outras semanas, Lorena esperava cada segundo para que o relógio batesse 19h, a hora da aula. E Sofia, torcia, em primeiro lugar, para chegar às 19h e, em segundo, para não chegarem as 21h, quando a aula acabava. Mesmo sem entender, sem questionar o porquê, Sofia, na maioria das noites, adormecia lembrando de cada horinha daquela noite, em que teve a atenção sublime de sua professora. Somente naquela noite ela pareceu de carne e osso, acessível, atingível. A admiração que sentia por Lorena vinha de tempos, desde quando vira um quadro seu, pela primeira vez, numa revista de artes da qual ela era assinante, com uma pequena nota falando sobre “a jornalista que também era artista, nas horas vagas”, como a própria reportagem dizia. Para Sofia, Lorena era artista em todas as horas, de todos os dias e em tudo o que fazia. Ela a admirava além do permitido, além do desejado, além do conhecido...

Numa noite de quarta-feira, antes da aula começar, Sofia aproximou-se e disse:

- Hoje é o meu aniversário, Lorena. Gostaria que você fosse lá em casa, depois da aula. Não vai ser nada demais. Só minha mãe, minhas tias e três amigos. Talvez meu pai, mas provavelmente ele não irá. Eles são divorciados e não se dão muito bem.

Lorena quis dizer não, aliás, quis dizer “eu não posso não, minha querida, eu tenho que fugir de você porque estou enlouquecendo com isso! Meus cabelos, de vermelho, estão ficando brancos, minhas mãos agora botam pra tremer quando você está por perto e vem me perguntar, como quem não quer nada, perto do meu ouvido, o que eu estou pintando! Eu estou gaguejando na aula, toda vez que você me olha daquele jeito que só você sabe fazer e nem sabe que faz! Me ajude, não me tente! Assim não há quem agüente!”, mas disse:

- Ok!

E foram. Lorena estava nervosa. Também, olha a situação: o elevador, a proximidade, a respiração, o perfume de Sofia, a voz, o corpo da menina, as mãos de mulher a puxando apartamento adentro, as tias, as primas, alguns amigos e ela, Lorena, justo ela: a “tia” a tiracolo. Dá até um trocadilho ridículo! Nessas horas, só respirando fundo. Finalmente as velas foram apagadas, os últimos vivas, os últimos vestígios de parabéns e todos foram embora, exceto Lorena. Não por falta de tentativas, mas por insistência de Sofia.

- Você tem que conhecer minha mãe, Lorena, ela vai adorá-la! Ela já deve estar chegando. Passou essa semana viajando, mas chega por volta das onze. Espera?

E mais uma vez a ladainha na cabeça de Lorena, dizendo que “não, que não dá não e blá blá blá...” ,mas todos já sabem o que saiu de resposta. Ela ficou. No silêncio da sala, a meia-luz do abajur, as duas ora conversavam, ora eram interrompidas pelo silêncio embaraçoso, típico de casais nos primeiros encontros, oram sorriam, ora apenas se olhavam e nessas horas, o coração das duas batia forte, quase audível para ambas.

Até que a mãe de Sofia chegou. A porta fechou-se às suas costas, ela se aproximou, a luz tênue foi acesa e, para a surpresa de Lorena, a mãe de Sofia, não era só a mãe de Sofia.

Era Virgínia, Virgínia Antunes, a mesma de quinze anos atrás. A imagem veio nitidamente à sua cabeça: E lá vinha ela, uma mulher belíssima, num carro possante, no calçadão, enquanto Lorena corria, com seu short de náilon, treinando para equipe de vôlei do colégio. A mesma mulher prepotente e envolvente que estacionou o carro naquele dia, desceu para tomar uma água de coco e chamou a menina que, na época, ainda era um mero projeto de “entendida”. Na seqüência, deu-lhe uma cantada desconcertante e inteligente e, em poucos minutos, arrastou Lorena de um jeito torto. Terminaram se envolvendo. Lorena, enlouquecendo. Virgínia era casada. Recém casada. E, articulada, mirabolante, soube prendê-la, provocá-la, usá-la. E Lorena, depois de muito sufoco, aprendeu a “desamá-la”, deixá-la e esquecê-la. A duras penas. Virgínia passou quase um ano insistindo, tentando resgatar a “jovem amante”, prometendo separar-se, assumi-la, mas Lorena já estava curada, já estava em outra. Virgínia nunca a perdoou, passou a odiá-la, a vigiá-la, a cercá-la, nos bares da vida, nas avenidas, demorou a aceitar perder seu pequeno troféu, seu mimo, sua conquista. Até que, um dia, cansou, viajou, se mudou. E nunca mais se viram, até aquele inimaginável momento. Ou Deus ou o Diabo estavam brincando com ela, só podia ser!

As duas se olharam. Sofia nada percebeu. As duas fingiram nunca ter se visto antes. Foram apresentadas com entusiasmo por Sofia. Após alguns segundos sem chão, Virgínia pediu:

- Meu amor, vá buscar uma taça de vinho do porto para sua mãe, por favor! Eu também quero comemorar esta data, apesar do atraso – disse, com dubiedade, forçando um sorriso.

A sós, Virgínia continuou:

- O que você está fazendo aqui com minha filha? – esbravejou, com os olhos verdes em chama, fuzilando Lorena.
- Não se preocupe, Virgínia, não é nem de longe o mesmo que você fez comigo. Somos amigas. Como ela mesma disse, eu sou professora de arte e ela, minha aluna.

Internamente Lorena sentiu-se culpada, constrangida. Ela tinha a plena consciência de que jamais jogaria pesado com Sofia, para envolvê-la, conquistá-la, como Virgínia havia feito com ela, mas não podia negar que estava se apaixonando pela menina. Não podia negar que sentia Sofia cada dia mais próxima, vulnerável, apesar de não saber ainda o que se passava na cabeça e no coração de sua aluna. Talvez aquela fatídica coincidência fosse o aviso de “PARE, OLHE, ESCUTE”, a placa amarela de trânsito, o sinal vermelho. As ponderações foram interrompidas pela voz cortante:

- Não quero você por perto, Lorena. Naquele dia fui à sua exposição porque não resisti. Estava ansiosa, queria reencontrá-la, mas não imaginaria que você fosse tentar se aproximar da minha filha para se vingar! Ela não tem nada a ver com nossas desavenças!
- Você continua louca! Eu jamais faria alguma coisa do tipo, muito menos usando Sofia! Eu não sinto mais raiva por você, Virgínia, aliás, não sinto mais nada, não tenho por que me vingar. Nem percebi que era você naquela noite, nem te reconheci!

As palavras de Lorena atingiram Virgínia de supetão. Tamanha era sua prepotência que ela jamais imaginaria que, um dia, aquela menina que ela conhecera iria virar uma mulher forte, decidida e extremamente atraente que, em nada, se assemelharia com uma adolescente, com a “sua” adolescente. Ela não teve como não acreditar, pelo olhar de Lorena, que ela realmente não sentia mais nada. Ela não era, em nada, a mesma.

Sofia voltou à sala com o cálice na mão. Dessa vez, percebeu algo estranho no ar.

- Sofia, eu tenho que ir. Foi um prazer estar aqui. Até semana que vem – disse Lorena, rapidamente.

Dessa vez, Sofia não insistiu. Não sabia exatamente o que havia acontecido, mas algo lhe dizia que não deveria pedir-lhe para ficar. Levou Lorena à porta.

A cabeça de Lorena parecia que ia explodir a qualquer momento. Ela foi andando zonza até o carro. As palavras de Virgínia pesando em seu ouvido. Só tinha um jeito de não dar margens nenhuma para se sentir como Virgínia a vira: uma aproveitadora de menores. O jeito era afastar-se de Sofia, esquecer a “diva”, evitar o caos, desligar-se da “Bonequinha de Luxo”, enfim, sair do “Mundo de Sofia”. E ela faria.

Na sala, Virgínia ainda sentia o sangue quente ferver por dentro. Ela ainda queria Lorena, agora mais do que antes. E não permitiria que a filha se envolvesse com ela de forma alguma, por vários motivos, inclusive por ciúme.

- Sofia, eu não quero você andando com esta moça! Ouviu bem?
- Claro que ouvi. Pode abaixar o tom de voz. Posso saber o porquê, embora não pretenda obedecer?
- Ela não é companhia para você. Logo se vê que ela não é “normal”. Daqui a pouco estão falando que vocês estão de caso, que minha filha é lésbica. Quem se junta, se parece. Nunca ouviu isso?
- Mãe, eu gostaria imensamente de, um dia, realmente parecer com Lorena. Ela é uma mulher fantástica e eu a admiro muito. Pouco me importa o que falam, muito menos do que ela gosta, se de homem ou de mulher, qual a diferença?
- Minha filha, você é muito ingênua. Não conhece esse tipo de pessoa. Eles terminam influenciando de algum modo e eu preciso cuidar de você.
- Mamãe, se você ficasse mais em casa e viajasse menos, pelo mundo a fora, saberia que eu sei me cuidar sozinha, que fui obrigada a aprender e que sou pouco influenciável. Ninguém me transformará em nada que eu não já seja.

A conversa foi encerrada. Virgínia não se sentia em condições de dialogar. Mas se acalmaria, pensaria e arrumaria um jeito de evitar o que ela estava prevendo.

Naquela mesma noite, depois de algumas horas tentando adormecer, Lorena fora despertada pelo telefone que “gritava” de sua escrivaninha. Era Cartaxo:

- Minha querida, desculpe incomodá-la a esta hora, mas acabei de receber aqui ninguém menos do que Virgínia Antunes. Ela estava enlouquecida, furiosa, como eu nunca havia visto. Quase me esgana para conseguir seu telefone. Eu tive que dar porque ela ameaçou ir até sua aula e fazer um escândalo. O que houve? De onde essa criatura ressurgiu?
- Cartaxo, depois te explico tudo, agora não tenho condições.
- Lorena, minha cara, não sei o que houve realmente, mas ela é louca e você sabe disso. Boa sorte. Se precisar de algo, me ligue.

Lorena desligou o telefone com uma sensação horrível. Conhecia bem Virgínia e temia o que ela poderia fazer, o que ela poderia falar para Sofia. No segundo seguinte, o telefone tocou novamente.

- Alô – foi tudo o que Lorena disse. Ela já sentia quem estava do outro lado da linha
- Preciso ver você. Temos muito o que conversar.
- Virgínia, já conversamos. Já lhe disse que não precisa se preocupar quanto a Sofia.
- Suas palavras não bastam. Quero ver você dizê-las...pessoalmente...mais uma vez.

O duplo sentido da frase fez Lorena congelar por dentro. Sabia que Virgínia começaria de novo a tentá-la, a provocá-la e ela, realmente, não estava disposta a se submeter àquilo.

- Sinto muito, Virgínia, acho que você não entendeu. Não vou me encontrar com você, aliás, não vou nem me dar ao trabalho de tentar dialogar com você, nem pessoalmente, nem por telefone, nem via satélite, por internet, fax ou meditação! – E desligou.

Mas em um segundo, o telefone tocou de novo. Lorena não atendeu, nem àquela ligação, nem às doze próximas e sucessivas. Como resposta, uma mensagem na secretária, num tom de voz inconfundível: “Afaste-se de minha filha ou todos seus alunos saberão que você a corrompeu, que você a seduziu. Vou acabar com sua reputação! Vou acabar com você!”

Lorena sentiu seu rosto empalidecer. Ela sabia que Virgínia era diabólica, mas não contava que seus planos e chantagens envolveriam o aspecto profissional de sua vida. Isso seria jogo baixíssimo! Por mais que ela acreditasse que seus alunos soubessem de sua orientação sexual, isso não a incomodava. Eles também não pareciam nem um pouco incomodados. Todos admiravam Lorena incondicionalmente. Porém, Virgínia havia deixado claro que sua intenção não se limitava a expor a homossexualidade de Lorena. Ia muito além, cruelmente além: ela queria literalmente “pintar” Lorena como uma lésbica sem escrúpulos que havia envolvido uma de suas alunas, justamente a mais ingênua e imatura, onze anos mais nova do que a professora. Tal “notícia”, em sua profissão, entre seus alunos, daria realmente “pano para manga”, uma manga longa, de tecido barato, áspero, desprezível. Realmente a repercussão não seria positiva. Ela precisava conversar com Sofia. Alertá-la. Afinal, ela também sofreria as conseqüências negativas daquilo. Ficaria exposta, surpresa, seria terrível!

Na sexta, Lorena não se sentia bem. Havia decidido que seria naquela noite a conversa. Após a aula, como de costume, Sofia permaneceu na sala. Mas Lorena não queria que a conversa transcorresse ali, até porque Virgínia poderia chegar a qualquer momento e fazer um escândalo. Por este motivo, a convidou para ir ao seu apartamento, sem explicar direito o porquê. Sofia concordou sem hesitar, sem questionar. Intimamente ela parecia saber os motivos de Lorena.

O apartamento de Lorena era pequeno, mas aconchegante. As paredes ilustradas com quadros fantásticos que deixaram Sofia boquiaberta. Havia arte por toda parte. Em cada espaço, os olhos de Sofia captavam uma parte de Lorena, um pouco mais da mulher que, por vezes, se escondia sob o manto de professora.

- Quanto mais a conheço, mais a admiro, Lorena. Disse Sofia, observando a mulher que estava à sua frente e lhe estendia uma taça de vinho, tentando manter certa distância. A aluna deu o primeiro gole no vinho tinto, respirou fundo e continuou – Sinto perceber que você continua tentado manter-se desconhecida para mim. Não entendo.

Lorena sabia que aquele era o momento e também teve que respirar fundo pra começar:

- Sofia, tenho um assunto um pouco desagradável para conversarmos – ela suava frio. Seu rosto demonstrava a preocupação. Mas, para a surpresa de Lorena, Sofia continuava calma e disse:
- Já imagino o conteúdo da conversa, Lorena. Quero lhe dizer, antes de qualquer coisa, que não me importo com o que dizem a seu respeito ou com o que dirão ao meu respeito – ela falava e se aproximava de Lorena, olhando-a de maneira firme e decidida. A poucos centímetros de distância, a respiração de ambas já estava alterada, descompassada pelo momento.

Por instantes, Lorena deixou-se levar pelo que sentia e esqueceu que o propósito da conversa era justamente a necessidade de ambas se afastarem. Elas estavam cada vez mais próximas.

Lorena tocou o rosto de Sofia com suavidade. Ela fechou os olhos. Lorena tirou-lhe os óculos. Pousou-os com cuidado sobre a mesa. Ambas fizeram o mesmo com as taças de vinho. Livraram as mãos de qualquer peso, de qualquer zelo. Olharam-se por alguns segundos, longos segundos. Lorena já não se reprimia, nem se escondia. Sofia esperava. Sentia que ia explodir por dentro. A professora, com as mãos de artista, pegou o rosto de Sofia entre as mãos e disse:

- Isso é o que menos deveríamos fazer e o que mais desejo fazer.

Sofia sentiu a boca de Lorena tomar a sua e soube, naquele instante, que jamais havia sentido realmente desejo. Não só seus lábios, mas seu corpo inteiro respondia ao beijo, numa sensação indescritível, incomensurável. A suavidade do toque das mãos de Lorena, de seus lábios, o gosto de vinho que ainda povoava a boca de ambas foi o suficiente para que Sofia cedesse, sem qualquer barreira.

Lorena não pensava mais em nada, apenas sentia o corpo jovem e arrebatador de Sofia que se colava ao seu de maneira ousada, quase insana, indecente. As duas deitaram sobre o tapete, no meio da sala. Lorena despia Sofia com precisão, sem nenhuma dúvida quanto ao que ambas queriam. O desejo era patente e se concretizava em forma de umidade, entre as pernas adolescentes. Sofia não sentia o chão, apenas as mãos experientes que lhe devassavam a intimidade, a virgindade, que aprofundavam o toque, que lhe invadiam forte, compassadamente. E ela enloquecia, e ela queria mais e mais, entre a dor e o prazer, entre o céu e a terra, entre ser diva e entregar-se ao caos. E ela se entregou. Gozou nos dedos de Lorena, que tremia inteira por dentro e dentro de Sofia. E foram adiante. Tudo ainda era pouco e ambas queriam mais. Lorena livrou-se de suas vestes e olhou nos olhos de Sofia, como se pedisse permissão para continuar. A resposta veio em seguida e foi uma chave de pernas. Sofia a queria dentro dela mais uma vez e teve. O suor das duas se misturaram, a umidade dos ventres também. Uma se encaixava com perfeição à outra e com essa perfeição se colaram, se esfregaram, ritmadamente, com as pernas entrelaçadas, com os ventres quentes, molhados, unidos...gemidos, gritos, silêncio.

Ainda deitadas sobre o tapete, as bocas coladas não conseguiam se separar, não havia espaço para palavras, embora ainda houvesse muito o que conversar. Ficaram assim durante horas, até trocarem o chão pela cama de Lorena e iniciarem o que não podiam mais adiar:

- Sofia, você não só sabe como sentiu o que sinto por você, mas isso não é o suficiente. Ainda tem algumas coisas que você precisa saber – era uma pena estragar aquele momento com palavras, ainda mais diante do olhar de Sofia.
- Lorena – continuou a menina, cada vez mais mulher – eu sei mais do que você pensa e eu quero você mais do que qualquer coisa. Vamos esquecer a conversa. Continue a me ensinar...na cama.

Lorena por pouco não resistiu. O desejo que tinha por Sofia era inacreditável. Ela era envolvente demais, difícil de ser contrariada, mas Lorena continuou:

- Minha querida, sua mãe tem me ligado – ela media as palavras, não era aquela a hora de falar do relacionamento que havia tido com Virgínia, não sabia como Sofia reagiria àquilo, mas deveria, pelo menos, alertá-la da intenção de sua mãe em espalhar o “caso” de ambas...ela se preocupava com a reputação de Sofia, com sua cabeça, seus sentimentos – ela tem... – mas Sofia a interrompeu e a surpreendeu como ninguém havia feito em sua vida.
- ...ela tem lhe ameaçado. Tem lhe chantageado. Vai espalhar por ai que você me seduziu, que me arrastou para a homossexualidade e etc...quer saber mais? Ela até redigiu umas cartas contando a história da “lésbica inescrupulosa que amaldiçoou sua jovem filha” – Sofia respirou, enquanto Lorena estava de boca entreaberta de surpresa – eu sei de tudo isso, Lorena, ela fez questão de me ameaçar também. Dessa história toda, apenas uma coisa me incomoda. O relacionamento que vocês tiveram e o receio que tenho de que ela a arraste de volta, depois de tanta pressão.

Nessa hora, Lorena sentiu-se morrer por dentro. Ela não imaginava que Sofia sabia de tudo, mas ela sabia mesmo e continuava a falar:

- Eu sou jovem, Lorena, mas não sou tão ingênua quanto pareço. Desde criança escuto meus pais brigarem e não foram poucas as vezes em que ele se referiu ao fato de haver sido trocado por uma mulher. Atrás das portas é um lugar fantástico para escutar as baixarias e segredinhos sórdidos da família, sabia? Depois daquele dia em que você e mamãe se “conheceram”, lá em casa, eu notei alguma coisa no ar e troquei meu lugar atrás da porta pela extensão do telefone. Ouvi tudo. Entendi tudo. Mas não se preocupe. Fiz com ela o que ela sempre fez comigo: mexi em suas coisas e tenho fotos e cartas que comprometem a sexualidade da Sra. Virgínia Antunes. Uma informação dessas vale ouro para ela e para nós. Ela nos deixará em paz.

Apesar do turbilhão de sensações estranhas que aquela conversa havia trazido à tona, uma predominou em Lorena: a de alívio. Ela suspirou, relaxou um pouco, mas ainda havia o que dizer:

- Sofia, vamos comprar uma briga enorme, não só com sua mãe, mas com a sociedade, você está disposta? Sabe onde está se metendo?

Sofia apenas riu e, por baixo dos lençóis, puxou a mão de Lorena e encaminhou os dedos longos da professora por entre suas pernas, afundado-os em sua umidade.

- Eu sei muito bem onde estou me metendo? E você, sabe mais ainda! Continue...

Foi tudo o que ela conseguiu dizer em tom rouco e apropriado. E Lorena obedeceu...mais uma vez.

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