quarta-feira, 17 de setembro de 2008

RECIPIENTES (Poesia)

Despejo na palavra meu conteúdo
Seja ela feita de vidro,
Seja ela feita de muro,
E assim tudo o que digo
Cabe no vazio que desnudo
Entre a letra e sua ausência
Entre mim e meu escuro

A palavra é recipiente do qual me sirvo
Para derramar o que sinto
Para conter o que não seguro
Se calo ou se minto
Não importa
De tudo se diz mesmo em letra torta

Quem me conhece, me decifra
E eu, finalmente, desponto
No domínio do escrito,
Sobretudo do não escrito,
Nas reticências ou ponto.

2 comentários:

Carla disse...

Entre reticências e ponto, além das entrelinhas, do não dito em tudo o que é dito, são estes os lugares para procurar a essência, o fluído, tudo aquilo que, etéreo demais, não suporta adquirir formas.

Beijos, aquário translúcido.

Carla

Fala Rapha disse...

"existe mais significado entre os espaços dos pontos das reticências do que crê nossa vã filosofia", não?

Isso me lembrou algo meio que "do contra" ao que você falou, na verdade. A música do Depeche Mode, "Enjoy the silence":
"palavras são como a violência
Quebram o silêncio
Vêm colidindo
Dentro do meu pequeno mundo
Doloroso para mim
Me perfurando por dentro
Você não pode entender
Minha Garotinha
...
as palavras são muito desnecessarias, elas só podem fazer mal"

beijo pra você linda.