terça-feira, 3 de junho de 2008

MÉTRICA (Poesia)


Sem métrica,
Sem ética,
Apenas sigo
Ainda que sem rumo,
Sem prumo,
Sem pontuação
E começo frases as quais não termino
E termino impulsos que não se começam
E finjo juízo, enquanto enlouqueço
E invento regras que não obedeço
E corrijo em mim o que já resta certo
Ao passo que erro gramaticalmente,
Em concordância nominal e técnica com tudo aquilo de que mais discordo
Em discordância imoral e cética com tudo aquilo que mais desprezo
Colocando rótulos no que não se nomeia
Só para citar em nome o que não posso sentir em pele
E peco, ainda que não seja este o intento, em concordância verbal, pronome e sujeito
Agindo em tempo presente, como não fiz no passado
Desejando para um futuro, ainda que distante, o que sei imperfeito
Como se mais-que-perfeito fosse
Como se mais que suficiente desse
Fazendo de cada oração verdadeira prece
E, sem maiores rodeios ou escrúpulos, ouso, enquanto peço:
Rogai por nós pecadores
Livrando-nos do mal que nós mesmos procuramos
Oferecendo algum sentido de organização ao caos que nós mesmos provocamos
Seja por sermos inquietos, insatisfeitos, ambos ou virginianos
Para que no derradeiro embate entre o que somos e o que queremos
Tenhamos um ponto final e não uma interrogação
Tenhamos alguma certeza em meio tudo e tanto que morre
À beira de um “sim” ou um “não”
Pois, ainda que sem métrica,
Sem ética,
Sem rima,
Sem perdão,
Prefiro ser palavra escrita sem linha
A ser linha sem retidão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Arretada, Marina! E sou virginiana, né? E também e sempre virginiana.