sábado, 21 de junho de 2008

LUTO (Poesia)


Algumas vezes
(Tantas vezes!)
Aquilo pelo que padeço, ironicamente, traz-me vida
E, na confusão de meus pesares,
Acalento o que tenho,
Muito embora não me despeça inteiramente dos desejos que nutro
Por tudo aquilo que ainda não tenho

E uso luto de mim mesma
Pois é certo que morro a cada final de dia
A cada final de frase
A cada final de plano
A cada engano e acerto que me abate
Tanto quanto mereço

E uso luto por mim mesma
Por tudo que enterro,
Ao passo que proclamo a paz que ainda não tenho
Por tudo que, intimamente, espero
Enquanto finjo que não quero
Enquanto finjo que não posso
Enquanto me desespero

E uso luto em mim mesma
Neste corpo que veste o preto
Ainda quando se despe
Pois a roupa que o encobre vem de dentro
E se faz – tanto quanto me faz – espessa

E é assim que, de luto,
Luto por mim mesma.

3 comentários:

Mina Blixen disse...

Amiga,
Identifiquei-me com essa poesia. Particularmente com essa.
Esse "luto" traz felicidade de identificação poética.
Beijos.

Marucia Todorov disse...

... e como eu poderia não observar e apreciar todas as suas buscas ?

Estarei sempre por aqui, em sua página, em virtude de seus versos e contos, e em virtude do meu amor e carinho por vc, sempre ao seu alcance.

Beijos com saudades.

Anderson Augusto Soares disse...

É que lutar com palavras não é luta vã, já dizia um conhecido meu, o Drummond.