Já não sei quantas imagens me guarda o espelho
E, atenta ao que vejo,
Sinto-me desconhecida de mim mesma
Parada,
Estática,
Defronte ao lago luminoso que me reproduz
Enquanto anseio
Quem sou?
Quem fui?
Que hei de ser no segundo vindouro?
São perguntar mortas diante do tempo
Ave cinzenta que disseca imagens e sonhos
Distorcendo semblantes,
Arrebentando fortalezas,
Sobrevoando-nos no abandono das asas audaciosas
Que nunca fecha
Já não sei quantas imagens me guarda o espelho
E, alheia às surpresas,
Olho e não me encontro
Quem vejo se angustia e pergunta:
Onde se perdeu a que não vejo?
Mas não falo com estranhos
Deito a força do punho no espelho
Que se estilhaça em pedaços de vários tamanhos
E eu, mil vezes desconhecida,
Espalhada em tantos lampejos,
Desfocada em tantas centelhas,
Finalmente me encontro:
Sou o aglomerado das imagens que não se unem
Ainda quando me refletem inteira.
Um comentário:
Querida "Port",
Amei essa poesia: rica construção da personagem; metáforas bem colocadas; a mensagem final que, num primeiro momento, tomei por desconcertante e, em releituras, associei à maturidade que só a vivência permite àqueles que, cientes de uma limitação, encontram respostas para a realidade individual e abrem caminhos a partir dessa constatação.
Ou seja, querida, levei para o lado da esperança no crescimento, apesar das dores, das buscas tantas vezes sem respostas, sem "porques". É que essas dores fazem parte do crescimento. Elas nos tornam mais fortes para o porvir, para o peso de crescermos e vermos, afinal, coisas difíceis de ser encaradas mas que, sem elas, a gente simplesmente não vive!
Amei Lampejos.
Um abraço daqueles de sempre.
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