Era noite,
Pelo menos em mim,
Quando a luz me tomou quase irrestrita
Por força tamanha, as persianas não resistiram e cedem espaço
Suas aberturas, antes tão mesquinhas, tão contidas,
Afastaram as guaridas e alargaram-se
Para que a claridade, num abraço inusitado, me incendiasse
No meu rosto, disposto em dois hemisférios eqüidistantes,
Pairou, momentaneamente, a certeza do sol,
Que brincou intenso em um dos lados de minha face
O outro, entretanto, permaneceu escuro:
Eterno medo de que a luz acabe.
sábado, 30 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
DE TANTO QUERER (Poesia)
Eu hoje quero o descanso do final do dia,
Quero a noite de frio e a de trégua,
Quero o consolo da cama que se amolda ao corpo
E o sono dos que não temem os sonhos,
Nem as selvas
Eu hoje quero o derradeiro golpe,
A derradeira luz,
A derradeira treva,
Quero o pedaço que todo dia falta
E quero a falta que tanto completa
Eu hoje quero esgotar as dores
Quero o impulso que arremessa longe
Quero o livro que não foi escrito
Quero o poema que não foi sentido
Eu quero a carta que não faz sentido
E ela é esta:
Quero a amplitude da incompreensão
E a estreiteza do que compreendo
Eu hoje quero conjugar os verbos
Em todas as pessoas e tempos
E, com ousadia, exijo
E, com ousadia, espero
E, por ousadia, canso
E, por ousadia, aprendo
Enquanto quero porque quero
Tudo o que já tenho
E só quando percebo, me rendo.
Quero a noite de frio e a de trégua,
Quero o consolo da cama que se amolda ao corpo
E o sono dos que não temem os sonhos,
Nem as selvas
Eu hoje quero o derradeiro golpe,
A derradeira luz,
A derradeira treva,
Quero o pedaço que todo dia falta
E quero a falta que tanto completa
Eu hoje quero esgotar as dores
Quero o impulso que arremessa longe
Quero o livro que não foi escrito
Quero o poema que não foi sentido
Eu quero a carta que não faz sentido
E ela é esta:
Quero a amplitude da incompreensão
E a estreiteza do que compreendo
Eu hoje quero conjugar os verbos
Em todas as pessoas e tempos
E, com ousadia, exijo
E, com ousadia, espero
E, por ousadia, canso
E, por ousadia, aprendo
Enquanto quero porque quero
Tudo o que já tenho
E só quando percebo, me rendo.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
TRINTA ANOS (Poesia)
Trinta anos
Tantos planos
Tantos focos e vertigens
Tantas tintas
Tantas telas
Inacabadas,
Emolduradas,
Inacessíveis,
Esboços de montanhas e planícies
Que dentro de mim ainda secam
Trinta anos
Tantos enganos
Tantos silêncios
Tantos verbos
Palavras soltas,
Palavras presas,
Na garganta e nos cadernos
Tantas lembranças,
Tantas promessas
Algumas quebradas,
Algumas cumpridas,
Todas sinceras
Nesta terra onde se condena o que não se cumpre
E quanto mais se cumpre mais se espera
Trinta anos
Muita agonia
No reino do dito e do não dito
Nas entrelinhas que sonham a coragem do explícito
Mas dormitam no sossego do contido, do quieto
Trinta anos
Muitos muros e pontes
Nos palácios que me habitam
Sobretudo nos meus desertos
Caminhos vencidos com passos errados
Pegadas em pântanos e em concreto
Trinta anos
Tantas vestes
Algumas curtas,
Outras longas,
Acobertando a mesma pele
Ora protegida,
Sempre tatuada,
Despida mesmo quando coberta
Ilha, cercada de botões por todos os lados
Mar, cercado de invasores por todas as terras
Trinta anos
Barco que muito já navegou
Sede de quem por mais trinta anos navega.
Tantos planos
Tantos focos e vertigens
Tantas tintas
Tantas telas
Inacabadas,
Emolduradas,
Inacessíveis,
Esboços de montanhas e planícies
Que dentro de mim ainda secam
Trinta anos
Tantos enganos
Tantos silêncios
Tantos verbos
Palavras soltas,
Palavras presas,
Na garganta e nos cadernos
Tantas lembranças,
Tantas promessas
Algumas quebradas,
Algumas cumpridas,
Todas sinceras
Nesta terra onde se condena o que não se cumpre
E quanto mais se cumpre mais se espera
Trinta anos
Muita agonia
No reino do dito e do não dito
Nas entrelinhas que sonham a coragem do explícito
Mas dormitam no sossego do contido, do quieto
Trinta anos
Muitos muros e pontes
Nos palácios que me habitam
Sobretudo nos meus desertos
Caminhos vencidos com passos errados
Pegadas em pântanos e em concreto
Trinta anos
Tantas vestes
Algumas curtas,
Outras longas,
Acobertando a mesma pele
Ora protegida,
Sempre tatuada,
Despida mesmo quando coberta
Ilha, cercada de botões por todos os lados
Mar, cercado de invasores por todas as terras
Trinta anos
Barco que muito já navegou
Sede de quem por mais trinta anos navega.
domingo, 10 de agosto de 2008
RECADO AOS DESERTOS (Poesia)
Eu não quero estar no ângulo destas pessoas que nos olham de lado
Eu não quero caber numa foto três por quatro
Não quero o celular da moda
Não quero ter o verso vazio de história
Não quero esta vida blindada
Que já nasce morta
Eu não quero trocar os pronomes numa conversa de mesa
Eu não quero mentir sobre o que me faz inteira
Não quero terminar meu dia vendo a novela das oito
Não quero inventar um noivo
Para compor o teatro que ensaiam à minha volta
Cada um por si e Deus por fora de todos
Eu quero erguer a vista e olhar os hipócritas de frente
Eu quero sangrar todas as molduras pungentes
E quem quiser que diga que ando fora da moda
E quem quiser que critique meu verso e minhas histórias
Minha resposta é andar de peito aberto
E se ele for alvo, que seja certo
E que sucumba ao tiro batendo
Pois antes morrer inteiro que deserto.
Eu não quero caber numa foto três por quatro
Não quero o celular da moda
Não quero ter o verso vazio de história
Não quero esta vida blindada
Que já nasce morta
Eu não quero trocar os pronomes numa conversa de mesa
Eu não quero mentir sobre o que me faz inteira
Não quero terminar meu dia vendo a novela das oito
Não quero inventar um noivo
Para compor o teatro que ensaiam à minha volta
Cada um por si e Deus por fora de todos
Eu quero erguer a vista e olhar os hipócritas de frente
Eu quero sangrar todas as molduras pungentes
E quem quiser que diga que ando fora da moda
E quem quiser que critique meu verso e minhas histórias
Minha resposta é andar de peito aberto
E se ele for alvo, que seja certo
E que sucumba ao tiro batendo
Pois antes morrer inteiro que deserto.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
CANSAÇO (Poesia)
Canso
Desse papel branco que quer me tirar a alma
E fazê-la deitar-se com calma,
Em cada palavra que escrevo
Mesmo quando não mando
Mesmo quando me calo
Esta sou eu?
Esta que leio?
Esta que lêem?
Esta que se faz desperta quando desmaio?
Esta sou eu?
Esta que se desconhece ao passo que escreve?
Esta que se apresenta com o nome de seus personagens?
Canso
Das perguntas que faço
Das respostas que dou
Das dúvidas que causo
Canso
Desse papel branco por onde saio.
Desse papel branco que quer me tirar a alma
E fazê-la deitar-se com calma,
Em cada palavra que escrevo
Mesmo quando não mando
Mesmo quando me calo
Esta sou eu?
Esta que leio?
Esta que lêem?
Esta que se faz desperta quando desmaio?
Esta sou eu?
Esta que se desconhece ao passo que escreve?
Esta que se apresenta com o nome de seus personagens?
Canso
Das perguntas que faço
Das respostas que dou
Das dúvidas que causo
Canso
Desse papel branco por onde saio.
sábado, 2 de agosto de 2008
CHAVE (Poesia)
A mesma chave que prende também liberta
Basta saber para que lado girá-la
E num só giro se pode destruir ou construir almas
Dissipar ou conjugar chamas
Vestir ou despir armaduras tão frágeis quanto pesadas
Mas a mesma chave que liberta também mata
Basta girá-la na hora errada
Ainda assim vale o risco:
Pois nossa prisão já é morte diária.
Basta saber para que lado girá-la
E num só giro se pode destruir ou construir almas
Dissipar ou conjugar chamas
Vestir ou despir armaduras tão frágeis quanto pesadas
Mas a mesma chave que liberta também mata
Basta girá-la na hora errada
Ainda assim vale o risco:
Pois nossa prisão já é morte diária.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
VIGÍLIA (Poesia)
Veio a noite e, com ela, o sono
Mas, na minha cama, não só meu corpo deitou comigo
Deitei, com todo o peso, meus planos
Sobretudo os que não vingaram e que ainda me vigiam
Deitei, em imagens disformes, tantos rostos que conheço e tantos desconhecidos
Deitei, em sons quase inaudíveis, vozes que me acalmam, palavras nunca antes ditas
Deitei, em cheiros e desenlace, uma alma tão sonolenta quanto perfumada pelo acaso,
Mas, na minha cama, não só meu corpo deitou comigo
Deitei, com todo o peso, meus planos
Sobretudo os que não vingaram e que ainda me vigiam
Deitei, em imagens disformes, tantos rostos que conheço e tantos desconhecidos
Deitei, em sons quase inaudíveis, vozes que me acalmam, palavras nunca antes ditas
Deitei, em cheiros e desenlace, uma alma tão sonolenta quanto perfumada pelo acaso,
esta essência que tonteia tanto quanto vicia
Deitei, e neste instante já adormecida, meu desejo de acordar para um outro dia
E, ao me levantar, deixei castelos incompletos sob a cama
E um pequeno chalé construído dentro do corpo que se erguia.
Deitei, e neste instante já adormecida, meu desejo de acordar para um outro dia
E, ao me levantar, deixei castelos incompletos sob a cama
E um pequeno chalé construído dentro do corpo que se erguia.
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