Seus
namorados eram amigos
Apenas
por isto se encontraram
Não
fosse a afinidade entre eles
Elas
jamais teriam se afinado
Iam
a praia todo domingo
Os
dois, até tarde, surfavam
Elas
ficavam na areia
Sem
lamentar a ausência de ambos
Nadavam,
isto sim, em seus próprios diálogos
Eram
muito diferentes
Bruna
natural, extrovertida, desinibida
Usava
biquines minúsculos,
Segura
que era do próprio corpo
Trabalhado
tanto quanto seu espírito
Carol,
cheia de manias
Protetor
solar, óculos escuros, maiô clássico
Tinha
medo não apenas do sol: da vida
À
noite, em restaurantes caros,
Os
quatro tomavam vinho
As
duas, bebiam-se nos olhares
Falavam-se
sem palavras
Enquanto
o namorado de uma criticava certo carro
E
o outro, considerava-o "uma máquina"
No
cinema, sentavam-se intercaladas
Mas
as frases que mais marcavam Bruna
Eram
justamente as que, durante o jantar, Carol citava
Nunca
exageravam nas bebidas
Mantinham
a distância necessária
Até
que numa sexta inusitada
Decidiram
ir a certa boate
O
show era de uma stripper festejada
Conhecida
por suas curvas e audácia em todo o meio masculino
Na
impossibilidade de irem só os rapazes
Resignados,
mas convictos
Levaram
as namoradas
A
vodka gelada era servida, sorvida
E
com exagero por todos
Os
corpos quentes, menos pelo calor, mais pelo desassossego
Cada
um com seus arroubos
Os
rapazes haviam se afastado
No
bar, pediam outra rodada
Bruna
olhava a moça seminua sobre o palco
Carol,
captando o momento, valendo-se da embriaguez que libertava
Aproximou-se
da outra, sentindo-lhe o perfume
E
perguntou, quase roçando-lhe os lábios:
"Você
já beijou outra garota?"
A
resposta veio certeira:
"Não,
Carolina"
"Mas
lhe beiraria inteira"
"E
disso você já sabe"
Atônita,
mas excitada, Carol continuou:
"Pois
eu odeio essa vontade insana"
"De
morder esses seus lábios"
"Odeio
o fogo que me arde quando você me olha assim "
"Odeio,
sobretudo, ver suas mãos e imaginar"
"O quanto delas cabe em mim"
Bruna
riu sem disfarce
Por
baixo da mesa,
Com
a firmeza necessária,
Tocou
a perna de Carol,
Já
inteiramente arrepiada,
E
continuou o passeio,
Sem
pressa, só devaneio,
Até
a renda molhada
Ao
constatar o mútuo desejo
Bruna
ordenou, sem qualquer recato:
"Pois
vamos sair agora"
"Quero
sentir todo esse ódio"
"Dentro
de um generoso quarto."