Como quem revisita cenários de
infância, quis retornar a meus primeiros contos, onde realmente nasci para esta
vida.
No portão, que abri com vagar,
a pressa se debatia: queria porque queria encontrar o que lá, outrora, havia.
Curiosa, saltei por alguns
parágrafos, ladrilhos mal apoiados, escorregadios; atônita, revivi alguns
verbos mal conjugados, espalhados por canteiros de flores cinzas; impaciente,
percebi nas entrelinhas, na antessala, pobreza de retórica e previsibilidade de
falas; cansada, faminta, alcancei a sala de jantar e cozinha, sem me servir de
nada, pois nada me servia; descrente, parei à porta do quarto, deixando as
personagens e fome de fora. De lá, resolvi voltar. Dei por finda a viagem. A
derradeira porta, que fique trancada, como trancado deveria ter deixado o
portal que me trouxe até aqui.
O tempo, por vezes, exige linearidade para
ser real e eu – não sei como! – apenas agora percebi.
No retorno confuso, bifurcado,
a lição: não se deve voltar a cenários de infância com os olhos de agora. Jamais
se vê no presente o brilho e encantamento de outrora. É preferível morrer com a
lembrança de algo que parecia bom a desembrulhar, no presente, passado incolor,
que já não satisfaz.
Portanto, eu os liberto de minhas pretensões,
queridos contos antigos, porque esquecidos. Que cada um de vós – junto comigo –
descanse em paz.
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