De unhas roídas
Na terra escura
Cavo a beleza
Perdida nas ruas
A flor lilás que se espreme entre as vigas;
O beijo roubado no ponto do ônibus;
O sorriso que salta, sem mácula, pelo vidro;
O mendigo deitado com seu cão à sombra;
União que se preserva até no corpo esquálido:
Miséria e miséria, lado a lado
O olhar translúcido do gato faminto;
A gota de chuva que escorre, livre, na placa de PARE;
A luz que, ousada, o mais escuro galpão invade;
A mão pousada na testa do paciente já sem febre;
A fé que se preserva mesmo quando não atendida a prece;
A lua que escapa entre as grades
De unhas roídas
Na terra escura
Cavo a beleza
Perdida nas faces
Se vale à pena?
Eis a pergunta diária
As mãos, outrora intactas, sangram
Mas a alma, que vinha sangrando, estanca
Na derradeira gota, um respiro sem dor
E a resposta é dada.
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