Dentro de mim jogo um jogo
Onde posso viver e morrer várias vezes
Onde escalo montanhas e venço rios sem esforço
Onde mato sem culpa
Onde transformo sangue em ouro
Dentro de mim jogo um jogo
Onde os inimigos são vermelhos e os companheiros, azuis
Facilmente distingo todos
Onde troco as armas no primeiro clicar do botão
Onde recarrego, no segundo clique, a munição
Onde conduzo a vida com apenas dois cursores
Onde pauso o tempo,
Onde adianto o tempo,
Onde venço o tempo,
O tempo todo
E há sempre tempo de novo
Para salvar as fadas e chacinar dragões
Há dentro de mim um jogo
Onde venço de mim mesma
Onde perco de mim mesma
Onde, sobretudo, me perco de mim mesma
Distraidamente
Sem fome,
Sem sono,
Sem dores,
E esqueço
Do jogo que fora de mim há
E sempre haverá
E sempre haverá?
Isso importa?
Há dentro de mim um jogo
Onde sempre haverá outras portas
Onde me alimento de tesouros,
Onde não há cama, quiçá sono,
Onde a dor não me alcança,
Apenas aos controles que tremem,
Simulando-a
Há dentro de mim um jogo,
Onde roubo os mortos
E compro armaduras que nem sempre valem o que pago
Mas sempre custam caro
É quando lembro: viver, por si só, é caro!
Mesmo na virtualidade
Há dentro de mim um jogo
Onde os monstros são realmente vencidos
Onde o game over nunca é definitivo
Onde meus escritos nunca serão pós-escritos
Pois não haverá lápide para mim
Eis que, na tela escura, letras amarelas me perguntam:
Continuar?
Sim.
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