quinta-feira, 7 de julho de 2011

A CAIXA DAS HORAS II

O tempo tarda
E porque não passa
Alarga a espera
Sobre o ponteiro espesso
Deito-me esticada
E porque nele caibo
Giro a fria madrugada
Coberta pelos sonhos que me restam

Ao acordar, descubro-me
Dos sonhos e de mim mesma
Já não sou aquela que jazia esticada
Sou um dia a mais que, ansioso, me espreita e chama
Raios de sol pelas persianas,
Saliva de luz,
Mingau das almas das janelas

Sem surpresa,
Bocejo e vejo:
O tempo ainda gira
Mas desço do ponteiro
Da carruagem do tempo alheio: o relógio
E vou caminhar em meu próprio tempo
Onde os segundos não se contam em macios e temperados sonhos
Mas em dura execução de salgado planejamento
Temo

E mais um dia parte
Enquanto minha outra parte
Em mais uma noite
Se inquieta

O tempo passa
E porque corre
Estreita a espera
Sobre o ponteiro fino da pressa
Equilibro-me, bambeio
Encolho-me, seguro
Segundo que não mais gira
Arrouba-se linear tal qual flecha

Ao acordar, caio, mas não morro
Ergo-me e volto a galgar o cavalo que badala em horas: o ponteiro
Ajeito-me na sela
Retomando as rédeas, finjo que freio
Temendo a vida?
Temendo a morte?
Temendo o tempo


É quando lembro:
A caixa das horas
É caixa que guarda tesouro
Jamais sepultamento

Desço do cavalo e o desengato da carruagem
Ao passo que também me liberto
Vou ousar novamente
Andar com meus próprios pés
Em meu próprio tempo:
Terreno onde me construo
Mas, desta vez, sem medo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Massa! O tempo é o tic tac do relógio andando para frente,o medo é o tic tac do relógio andando para trás.

Raquel


raquelbcavalcanti@hotmail.com

Anônimo disse...

Querida Marina,

Tocou-me a sensibilidade de suas linhas. Peço permissão para tomar o último trecho de sua criação e levá-lo comigo:

"Desço do cavalo e o desengato da carruagem/Ao passo que também me liberto/Vou ousar novamente/Andar com meus próprios pés/Em meu próprio tempo:/
Terreno onde me construo/Mas, desta vez, sem medo."

Traduz exatamente meu atual momento.

Grande abraço!
Rafaela Lins