quinta-feira, 2 de julho de 2009

DE ONDE VENHO (Poesia)

Eu venho de outros planos,
Tantas andanças,
Alterando destinos
Venho dos tempos em que menino
Crescia em beira de rio
Mergulhando no riso
Correndo na grama
Brincando de se esconder
Talvez mesmo de si
Embaixo da cama
E a tudo isso se chamava infância
Eu venho de onde esta infância vinha
E, apesar de menina,
Tudo isto eu fazia

Eu venho de outras rimas
Ingênuas, pueris, vespertinas
Das que embalavam canções de ninar
Das que encerravam o entardecer
Das que tinham cheiro de cama forrada
De roupa felpuda e limpa
Das que tinham gosto de sopa quente
E beijo de mãe antes de dormir

Eu venho de outros postais
Dos que retratavam cadeiras nas calçadas
Adultos e suas prosas
Crianças e suas bolas
E a rua, a mesma rua de todos os dias
Acesa pelo amarelo dos postes
Forradas de terra batida
Eu venho dos postais que retratavam a vida
Simples, mas preenchida
A vida sempre viva
Apesar do morrer dos dias

Até que esta mesma vida
Perdeu-se de onde vinha
Molduras e dogmas
Falta de encaixe
Preconceito contra poesia
Mapas rasgados,
Planos corrompidos,
Rios transbordando medos escondidos
Tempo, tempo,
Infância se despedindo
As roupas encurtando as mangas
Novas roupas,
Novas rimas,
Pouco riso,
Canções de ninar distorcidas,
Fatalmente substituídas:
Som das boates,
Fumaça dos cigarros,
Madrugada afora
Vodka no lugar de sopa
Beijo de mulher e não de mãe ou de marido
Calçadas vazias,
Velhos e crianças dormindo
Retorno para a casa com o dia claro
Remorso, culpa, desatino

Dúvidas em família,
Perguntas em família,
Respostas em família,
Intolerância em família,
Tudo ou nada:
Nada!

Viagem,
Estudos,
Esforços,
Fracassos,

Viagem,
Estudos,
Esforços,
Vitória

Respeito que se readquire
Mãe, pai, irmãos que novamente lhe olham
E vêm que, apesar do roteiro diverso dado à história,
Continua-se sendo o que se era
E se vindo do mesmo caminho

Ainda hoje venho de outros planos,
Tantas andanças,
Alterando destinos
Venho dos tempos em que menina e menino
Precisavam e precisam ser felizes
Não importa como
Apenas quando:
Agora.

6 comentários:

Amélie . disse...

Forte e emocionante!!
Em alguns trechos, lembrei da minha infância na cidadezinha do interior e minha vida solitária de adulta na capital.

Linda!

mortiisba disse...

Ótima poesia Marina, estava com saudades tanto delas como dos seus contos, que bom q esta de volta e com tudo pelo q vejo, aguardo mais viu!!!
beijoss

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Gostei.
A vida tem um ritmo, para mim você conseguiu traduzir este ritmo através desta poesia.
Parece-me mais madura, mais real, mais próxima das verdades que importam.
Parabéns!

Roberta.

Unknown disse...

Amiga, me emocionei... linda!!!
Te amo p sempre.

Mari

Anônimo disse...

Parabéns, querida!
Belas palavras..


Adriana