quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

CEIA (Poesia)

Recuso-me
A esta venda de almas,
A este comércio vulgar,
A transfixar vitrines com o olhar
E as mãos espalmadas
A boca infantilizada
O delírio pelo que é caro e se põe do outro lado
Alheio à fome
Às náuseas
E traz o rótulo de imprescindível
Apesar de absolutamente dispensável

Recuso-me
A celebrar a hipocrisia
A participar dessas orgias praticadas sobre as mesas
A ensaiar o absoluto esquecimento dos males em prol de um “Feliz Natal”
A contaminar-me desta mesma cegueira
A ver o piscar de luzes que oscilam alheias às escuridões internas
Que não se tornam menos negras nas vésperas de qualquer dia trinta e um
Tampouco de qualquer primeiro de janeiro

Recuso-me
A alimentar-me desta ceia
Que abarrota estômagos,
Enquanto esvaziam-se os corações alheios.

4 comentários:

Marucia Todorov disse...

Recuso-me.

Linda.

Anônimo disse...

Oi, amiga, tudo bem?
Amei esta poesia que retrata a face capitalista do Natal e esconde o seu verdadeiro significado que é o partilhar do pão,o amar e o perdoar e a renovação da esperança no amanhã pelo nascimento do menino Deus. Parabéns pelo talento e pela atualidade da mensagem.
Bjs,
Nalva

ImagemRad. disse...

De alto punho essa poesia.
A verdadeira cegueira dos padrões sociais.E a cada CEIA se comemora a demência humana...


Um abraço
Jeane Queiroz.

Anônimo disse...

Marina,
Comungo de sua opinião. Jesus é tão fascinante, tão maravilhoso. Impossível associá-lo a esta festa tão fútil e decadente.
A propósito adorei a foto em que estás a contemplar a ponte.
Moisés.
P.S: Continuarei lendo sua obra poética.