Vivo numa cidade emoldurada
Pelos muros de concreto armado,
Por sobre a tintura e o recato,
Avisto cartazes retangulares e quadrados,
Figuras tão geométricas e limitadas quanto os que lêem
Atentos e animados
E em cada um destes letreiros,
Verdadeiros espelhos desta cidade,
De maneira mórbida,
Em tons de lilás e rosa,
Jaz de forma patente,
As mais sombrias propagandas e tantas banalidades diferentes
São bandas de pagode, duplas sertanejas
São grifes da moda, garotas propaganda
Fotoshop emprestando a perfeição que passa longe
Longe da miséria que estampa a cara de quem tem fome e sequer sabe ler
São bares, hotéis, boates
São shows de brega, shows de rock
Forro, apelação e desespero, com dançarinas seminuas
Mau gosto estampado,
Vitrines em papel quadrado,
Tudo à venda, tudo à mostra
Nada se esconde, à exceção do que, realmente, importa
São papas que são pops,
Pastores no horário nobre,
A interconectividade
Inclusive entre as operadoras de telefone
E tudo isto cabe num quadrado,
Confeccionado por gigantes esquadros,
Dentro do qual querem nos ver mergulhados,
Afundando, naufragando
E dia-a-dia a piscina se expande
Vivo numa cidade emoldurada
Mas vivo fora, vivo à margem
Dos outdoors que engolem e cospem
Nossa pobre – que se pensa nobre – sociedade.
3 comentários:
Boa tarde,
Todos os dias espero anciosamente pela postagem do segundo capítulo de ENQUANTO HOUVER MÚSICA.
Paty Coêlho.
Em atenção a todos aqueles que estão acompanhando “Enquanto Houver Música”, aviso que postarei o segundo capítulo no sábado, 31/10/2009. E com ele, outras canções hão de entoar, trazendo novos recados.
Abraços,
Marina Porteclis.
É preciso amar a poesia, para ser poesia, crua, nua e tão real.
Belíssimo texto, caríssima poeta.
Abraços, luz e paz. Léa Ferro.
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