Vivo numa cidade emoldurada
Pelos muros de concreto armado,
Por sobre a tintura e o recato,
Avisto cartazes retangulares e quadrados,
Figuras tão geométricas e limitadas quanto os que lêem
Atentos e animados
E em cada um destes letreiros,
Verdadeiros espelhos desta cidade,
De maneira mórbida,
Em tons de lilás e rosa,
Jaz de forma patente,
As mais sombrias propagandas e tantas banalidades diferentes
São bandas de pagode, duplas sertanejas
São grifes da moda, garotas propaganda
Fotoshop emprestando a perfeição que passa longe
Longe da miséria que estampa a cara de quem tem fome e sequer sabe ler
São bares, hotéis, boates
São shows de brega, shows de rock
Forro, apelação e desespero, com dançarinas seminuas
Mau gosto estampado,
Vitrines em papel quadrado,
Tudo à venda, tudo à mostra
Nada se esconde, à exceção do que, realmente, importa
São papas que são pops,
Pastores no horário nobre,
A interconectividade
Inclusive entre as operadoras de telefone
E tudo isto cabe num quadrado,
Confeccionado por gigantes esquadros,
Dentro do qual querem nos ver mergulhados,
Afundando, naufragando
E dia-a-dia a piscina se expande
Vivo numa cidade emoldurada
Mas vivo fora, vivo à margem
Dos outdoors que engolem e cospem
Nossa pobre – que se pensa nobre – sociedade.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
ADIANTE (Poesia)
Olho adiante
É mar o que vejo
E sol que fulgura sobre as ondas que chegam
Não mais tenho medo
Tenho sede de nado
E nado adiante
Não retrocedo
Apenas respiro fundo
O ar que insufla as velas
Do navio que me leva:
Eu mesma
Olho adiante
É vida o que vejo
E planos que cintilam sobre tantos montes
Escalo-os,
Venço-os,
Sorrio enquanto avisto o início da escalada
Não canso,
Apenas agradeço
A cada metro vencido de meus campos
Meu norte é o mesmo:
Busco a plenitude
E, depois de tempos de estilhaço,
Dispersa por tantas terras,
Em tantos passos,
Sinto-me o que desde sempre busco:
Inteira
Olho adiante
Sou eu o que vejo
Não mais simples imagem refletida no espelho
Hoje sou dona de tudo o que reflito,
Porque reflito plena,
Em minha inteireza,
Sou dona do mar e dos montes,
Do navio e do cais,
Da coragem e do medo,
Da luz e da ausência de luz
Em mim, mesclam-se o branco e o preto:
Sou o próprio espelho.
É mar o que vejo
E sol que fulgura sobre as ondas que chegam
Não mais tenho medo
Tenho sede de nado
E nado adiante
Não retrocedo
Apenas respiro fundo
O ar que insufla as velas
Do navio que me leva:
Eu mesma
Olho adiante
É vida o que vejo
E planos que cintilam sobre tantos montes
Escalo-os,
Venço-os,
Sorrio enquanto avisto o início da escalada
Não canso,
Apenas agradeço
A cada metro vencido de meus campos
Meu norte é o mesmo:
Busco a plenitude
E, depois de tempos de estilhaço,
Dispersa por tantas terras,
Em tantos passos,
Sinto-me o que desde sempre busco:
Inteira
Olho adiante
Sou eu o que vejo
Não mais simples imagem refletida no espelho
Hoje sou dona de tudo o que reflito,
Porque reflito plena,
Em minha inteireza,
Sou dona do mar e dos montes,
Do navio e do cais,
Da coragem e do medo,
Da luz e da ausência de luz
Em mim, mesclam-se o branco e o preto:
Sou o próprio espelho.
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