Mundo obtuso
Onde um estudioso vale menos do que um estúpido
Mundo hipócrita
Marcado pela diferença
Mas que ergue bandeiras à intolerância fincadas em modelos retrógrados
Mundo confuso
Onde se deseja o progresso construindo menos estradas e mais muros
Mundo medíocre
Onde se comemora o futebol, o carnaval, a cerveja, a mulher à mesa, as “riquezas”
Encobrindo as crises
Mundo perverso
Onde se tolera a miséria, o crime, as guerras
Mas se repudia o amor entre os do mesmo sexo
Mundo religioso
Onde o nome de Deus está na boca de tantos padres e pastores
Que cospem na cara dos outros
Mundo raquítico
Onde ou se é desnutrido de corpo ou de espírito
Mundo sólido
Tijolos de ignorância, preconceito e ódio
Mundo cão
Onde se diz “sim” ao que merece “não
Mundo nosso.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
MAS DE QUEM É A CULPA?
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
O QUE DESEJO (Poesia)
Eu quero mudar de pais e de país
Quero uma sociedade justa e feliz
Onde o outro não seja o algoz e queira me punir
Por eu ser tudo o que sou e não ter medo
Eu quero um coração sem cicatriz
Que não tenha que se renovar a cada instante que bate
A cada punhalada que adentra à carne
Diante da fraqueza dos amigos
Diante da ausência de defesa
Diante de minhas causas gigantescas
Eu quero uma vida que não mate
Quero ouvir os políticos sem asco
Quero acreditar que vai dar certo o diálogo
Que, dia a dia, travo com os outros e comigo mesma
Eu quero aceitar a covardia alheia
Quero lidar melhor com minha coragem
Para que ela não me fira mais do que proteja
Eu quero olhar o outro sem sentir vergonha por ele
Eu quero ter menos orgulho de mim mesma
Para que eu não destrua quem, erroneamente, penso estar abaixo
Afinal, “somos todos iguais”
E, sem sarcasmo, preciso lembrar a máxima que tanto defendo
Eu quero uma memória mais curta
Que não me jogue na cara as falhas que sempre cometo
Que não me reporte, antes do sono, à dor do cárcere que tanto conheço
Que não me faça reviver, insone, meus maiores pesadelos
Enfim,
Eu quero desaprender a refletir,
Eu quero desaprender a me iludir,
Eu quero desaprender a escrever,
Para não ter que continuar a sentir
A cada palavra que, inutilmente, escrevo
Tudo isto
Que, na verdade, é sempre o mesmo
É tudo o que desejo.
Quero uma sociedade justa e feliz
Onde o outro não seja o algoz e queira me punir
Por eu ser tudo o que sou e não ter medo
Eu quero um coração sem cicatriz
Que não tenha que se renovar a cada instante que bate
A cada punhalada que adentra à carne
Diante da fraqueza dos amigos
Diante da ausência de defesa
Diante de minhas causas gigantescas
Eu quero uma vida que não mate
Quero ouvir os políticos sem asco
Quero acreditar que vai dar certo o diálogo
Que, dia a dia, travo com os outros e comigo mesma
Eu quero aceitar a covardia alheia
Quero lidar melhor com minha coragem
Para que ela não me fira mais do que proteja
Eu quero olhar o outro sem sentir vergonha por ele
Eu quero ter menos orgulho de mim mesma
Para que eu não destrua quem, erroneamente, penso estar abaixo
Afinal, “somos todos iguais”
E, sem sarcasmo, preciso lembrar a máxima que tanto defendo
Eu quero uma memória mais curta
Que não me jogue na cara as falhas que sempre cometo
Que não me reporte, antes do sono, à dor do cárcere que tanto conheço
Que não me faça reviver, insone, meus maiores pesadelos
Enfim,
Eu quero desaprender a refletir,
Eu quero desaprender a me iludir,
Eu quero desaprender a escrever,
Para não ter que continuar a sentir
A cada palavra que, inutilmente, escrevo
Tudo isto
Que, na verdade, é sempre o mesmo
É tudo o que desejo.
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sexta-feira, 1 de outubro de 2010
INCÊNDIOS (Poesia)
Se for para lutar, lutemos
Arregacemos as mangas!
Enfrentemos o fogo!
As brasas, o ardor, a lágrima, o olho
Tudo se turva
O calor no rosto
As faces rubras
A vida se descuida
A fumaça tinge o corpo
A alma torna-se cinza
Inala-se medo
Oscila-se entre o ir e o voltar
Vai-se
Queima-se
Sente-se dor
Mesmo com a dor, se vence a batalha
As feridas saram
Saram os medos
Sobre o antigo aceiro, o tempo passa
Sob os carvões, outrora labaredas, cresce o verde
Nas fendas cavadas pelo caos passa a correr um vale
Novas águas lavam nosso corpo
Inala-se o cheiro da chuva, misturado ao perfume das árvores
E o que se faz deste novo cenário?
Arregacemos as magas de novo?
Não! Ainda é cedo!
É preciso celebrar a vitória antes da nova luta
É preciso pendurar a rede na varanda tão desejada
É preciso deixar-se embalar pela felicidade conquistada
Não façamos de nossa existência perene palco de busca
Não transformemos nossas chegadas em partidas imediatas
É preciso mergulhar no vale, colher a fruta, saboreá-la
Para que a vida não se torne um eterno incêndio
Que arde por fora e por dentro
Feito de fogo ou de águas.
Arregacemos as mangas!
Enfrentemos o fogo!
As brasas, o ardor, a lágrima, o olho
Tudo se turva
O calor no rosto
As faces rubras
A vida se descuida
A fumaça tinge o corpo
A alma torna-se cinza
Inala-se medo
Oscila-se entre o ir e o voltar
Vai-se
Queima-se
Sente-se dor
Mesmo com a dor, se vence a batalha
As feridas saram
Saram os medos
Sobre o antigo aceiro, o tempo passa
Sob os carvões, outrora labaredas, cresce o verde
Nas fendas cavadas pelo caos passa a correr um vale
Novas águas lavam nosso corpo
Inala-se o cheiro da chuva, misturado ao perfume das árvores
E o que se faz deste novo cenário?
Arregacemos as magas de novo?
Não! Ainda é cedo!
É preciso celebrar a vitória antes da nova luta
É preciso pendurar a rede na varanda tão desejada
É preciso deixar-se embalar pela felicidade conquistada
Não façamos de nossa existência perene palco de busca
Não transformemos nossas chegadas em partidas imediatas
É preciso mergulhar no vale, colher a fruta, saboreá-la
Para que a vida não se torne um eterno incêndio
Que arde por fora e por dentro
Feito de fogo ou de águas.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
ENQUANTO O TEMPO RESPIRA (Poesia)
Enquanto o tempo respira,
Insufla-se o mundo de caos
A poeira tinge as ruas e as almas
Há lama nas calçadas
Cinzas de hipocrisia dançando no ar
Enquanto o tempo respira,
Insufla-se a TV de noticiários
“Vísceras das vítimas cheiram mal”
“Intolerância metralha os que buscam igualdade”
Mortalhas para vestir os desfechos do jornal
E inquietude para quem deseja calma
A violência não muda de canal e nos invade
Já não há portas nas casas
A vida vira vitrine e nós, manequins
Verdadeiros fantoches manipulados
A moda muda antes de a fome passar
E as faces tornam-se cada vez mais magras
Covas nos rostos e nos quintais
Corpos que andam, outros que se escondem
Ou são escondidos
Cadáveres mortos e vivos
Sepultados dentro e fora de nós
E haja negrume para encobrir tanta maldade!
E haja estrumo para soterrar tantos bandidos!
Enquanto se espera uma camada de cal,
Enquanto se espera uma camada de paz,
Enquanto se espera o branco,
A vista se turva
A vista se encurta
Enquanto se assiste o Fantástico
Show de tudo o que se tornou banal
E quando o domingo finalmente acaba,
Dorme-se na espera de uma nova segunda
Sonha-se na espreita de um novo mundo
Estica-se o corpo sobre a cama e sobre o caos
Enquanto o tempo respira
(E não para de respirar!)
Morremos aos poucos,
Sem ar e sem rumo
O que fazer do que foi feito?
Desligar?
Insufla-se o mundo de caos
A poeira tinge as ruas e as almas
Há lama nas calçadas
Cinzas de hipocrisia dançando no ar
Enquanto o tempo respira,
Insufla-se a TV de noticiários
“Vísceras das vítimas cheiram mal”
“Intolerância metralha os que buscam igualdade”
Mortalhas para vestir os desfechos do jornal
E inquietude para quem deseja calma
A violência não muda de canal e nos invade
Já não há portas nas casas
A vida vira vitrine e nós, manequins
Verdadeiros fantoches manipulados
A moda muda antes de a fome passar
E as faces tornam-se cada vez mais magras
Covas nos rostos e nos quintais
Corpos que andam, outros que se escondem
Ou são escondidos
Cadáveres mortos e vivos
Sepultados dentro e fora de nós
E haja negrume para encobrir tanta maldade!
E haja estrumo para soterrar tantos bandidos!
Enquanto se espera uma camada de cal,
Enquanto se espera uma camada de paz,
Enquanto se espera o branco,
A vista se turva
A vista se encurta
Enquanto se assiste o Fantástico
Show de tudo o que se tornou banal
E quando o domingo finalmente acaba,
Dorme-se na espera de uma nova segunda
Sonha-se na espreita de um novo mundo
Estica-se o corpo sobre a cama e sobre o caos
Enquanto o tempo respira
(E não para de respirar!)
Morremos aos poucos,
Sem ar e sem rumo
O que fazer do que foi feito?
Desligar?
segunda-feira, 15 de março de 2010
APELO
Leitores,
Depois de muito sofrer e refletir, resolvi agir. Pode parecer pouco, porém, preferível um pequeno passo à inércia.
Escrevi esta carta - que segue nas linhas vindouras - ao Ministério Público Federal de São Paulo para que alguma providência seja tomada em combate ao preconceito claramente propagado pela Rede GLOBO.
Quem se identificar com a relevância do tema, por favor, faça o mesmo: www.prr3.mpf.gov.br, em “Acessibilidade” e “Contatos”.
"APELO
Confesso que nunca havia assistido a um Big Brother em toda a minha vida. Em verdade, não gosto e raramente assisto televisão. Motivos à parte – que, do meu ponto de vista, são tão óbvios quanto numerosos – resolvi assistir a este BBB10. Resultado: longe de me proporcionar divertimento, tem me causado mal-estar, angústia e revolta. É impressionante o descompromisso da GLOBO com qualquer valor! Se antes eu desconfiava, agora tenho a mais pura certeza: a emissora visa tão somente à audiência e ao lucro, ainda que, para tanto, tenha que afrontar o Direito e levar ao ar os maiores absurdos, disseminando, inclusive, de forma odiosa e clara, o preconceito.
Eu sou lésbica e me dói ver o resultado dessa ganância descompromissada da GLOBO, o reflexo imediato e patente que essa irresponsabilidade causa na população, sobretudo na parcela menos provida de senso crítico e de estudo (que é bem ampla, diga-se de passagem, nesse nosso país cujos índices de analfabetismo nem precisam ser relembrados).
Nós, os gays, já sofremos preconceito demais! Somos vítimas de um constante e antijurídico assédio social! A todo instante, de forma direta ou indireta, nos é cobrado – inclusive dentro de nossas famílias e de nossas casas, o que é mais absurdo! – que não demonstremos o afeto que possuímos por nossos pares! É-nos exigido que passemos despercebidos, fingindo masculinidade ou feminilidade, a depender do caso! É-nos cobrado que tenhamos que olhar para o lado antes de direcionar um olhar de amor aos nossos companheiros! Enfim, já somos pressionados demais para não sermos quem somos, em plenitude de direitos, em que pese pagarmos os mesmos impostos! Sinceramente, não precisávamos que ninguém – muito menos uma pessoa jurídica com o poder da GLOBO – fortalecesse esse odioso preconceito! Pensei eu – munida dos últimos resquícios de inocência – que a emissora havia colocado três homossexuais assumidos com o objetivo – louvável – de reduzir o preconceito, a ignorância sobre o tema, trazendo esclarecimentos, deixando de mistificar o assunto, desvinculando homossexualidade de promiscuidade, enfim, propagando o respeito, mas, boquiaberta, tenho assistido o inverso e o pior: em horário nobre!
Outro dia, Pedro Bial virou-se para Serginho (que é um dos gays) e, sem qualquer rodeio, indagou: você é ativo ou passivo? E eu, agora, pergunto: onde está o respeito à dignidade? Quem disse que ser gay dá o direito de devassar a intimidade de alguém desta forma? Que tipo de orientação Pedro Bial tem recebido da GLOBO para perguntar isto a um homossexual e não perguntar a um heterossexual se ele gosta mais de sexo anal, oral ou “papai-mamãe”? E não venham me dizer que quem “está na chuva é para se molhar”, que vai para o programa quem quer e está disposto a tudo! Ainda que isto seja fato, não contesto a postura do participante em responder, tampouco em participar. Estou aqui para contestar a postura do apresentador do programa e, consequentemente, da emissora! O que se deseja quando se expõe alguém desta forma? Preservar o respeito a esta pessoa e à sua orientação sexual é que não é! Não é a toa que tenho ouvido relatos de que, alguns grupos, ao atacarem verbal e mesmo fisicamente um homossexual na rua, têm gritado “Gang Dourada”, fazendo clara menção a Marcelo Dourado (que é homofóbico patente, sem meias palavras!)!
Restam, agora, as derradeiras perguntas: ninguém vai fazer nada? Onde andam os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade? Onde anda a máxima de Kant que define a dignidade – no âmbito jurídico e filosófico – como o dever de tratar o ser humano como um fim em si mesmo, jamais como um meio para a satisfação dos interesses de outros, muito menos quando este outro é, “singelamente”, a Rede GLOBO?
Escrevi uma monografia entitulada “Homossexualidade: direito ou defeito?”. No trabalho, trato do tema, primeiro, no âmbito extrajurídico – valendo-me da História, Medicina, Genética, Psicologia e Psicanálise – para, depois, passar ao âmbito jurídico, mais especificamente o Constitucional. Para tanto, analiso 5 (cinco) princípios constitucionais. Os 3 (três) primeiros – igualdade, liberdade e dignidade da pessoa humana – de caráter geral e 2 (dois) outros – pluralidade das entidades familiares e afetividade – específicos do Direito de Família. Paralelamente à análise dos significados e conteúdos dos princípios abordados, busco vislumbrar - e vislumbro! - a homossexualidade como um direito, verificando que ela encontra respaldo constitucional. Feita essa verificação, parto do mundo constitucional para o real, numa tentativa de comparar o juridicamente idealizado com o humanamente concretizado. Desta feita, observo que o preconceito ainda inviabiliza a concretização da justiça quando o tema é homossexualidade. Por fim, dou a resposta à pergunta, título do referido trabalho. Homossexualidade: direito ou defeito? E a resposta mostra-se óbvia: DIREITO! Chego a esta conclusão com base na Ciência e no Direito, longe dos "achismos" e dos argumentos pseudojurídicos, que só encontram terreno fértil na ignorância e na falta de capacidade de "amar o próximo como a si mesmo". Talvez sejam estes os fundamentos que precisam ser expostos através da mídia, do Poder Judiciário, do Ministério Público Federal, enfim, de qualquer um que se disponha a fazer valer a Justiça!
Enfim, só queria registrar minha indignação, minha preocupação e pedir, por favor, que o Ministério Público Federal tome alguma providência jurídica, rápida e drástica, cumprindo com fidelidade e eficiência seus deveres institucionais, nos termos determinados pela Constituição Federal em vigor! Não é possível que, a esta altura do tempo e do Direito, uma emissora ainda coloque no ar uma pessoa – que, aparentemente goza das faculdades mentais e da simpatia do público – dizendo que “apenas os homossexuais contraem AIDS!”, como fez Marcelo Dourado. O que é isto? Ignorância ou maldade? Conclua-se por uma ou outra hipótese, trata-se, acima de tudo, de preconceito! Disseminação de preconceito!
Por fim, esclareço: falei sobre minha monografia porque quero pô-la a disposição, caso precisem de alguma fonte. Sei que existem muitas, mas, em meu trabalho, cuidei de resumir as principais. Pode facilitar.
Aguardo resposta e providências."
Depois de muito sofrer e refletir, resolvi agir. Pode parecer pouco, porém, preferível um pequeno passo à inércia.
Escrevi esta carta - que segue nas linhas vindouras - ao Ministério Público Federal de São Paulo para que alguma providência seja tomada em combate ao preconceito claramente propagado pela Rede GLOBO.
Quem se identificar com a relevância do tema, por favor, faça o mesmo: www.prr3.mpf.gov.br, em “Acessibilidade” e “Contatos”.
"APELO
Confesso que nunca havia assistido a um Big Brother em toda a minha vida. Em verdade, não gosto e raramente assisto televisão. Motivos à parte – que, do meu ponto de vista, são tão óbvios quanto numerosos – resolvi assistir a este BBB10. Resultado: longe de me proporcionar divertimento, tem me causado mal-estar, angústia e revolta. É impressionante o descompromisso da GLOBO com qualquer valor! Se antes eu desconfiava, agora tenho a mais pura certeza: a emissora visa tão somente à audiência e ao lucro, ainda que, para tanto, tenha que afrontar o Direito e levar ao ar os maiores absurdos, disseminando, inclusive, de forma odiosa e clara, o preconceito.
Eu sou lésbica e me dói ver o resultado dessa ganância descompromissada da GLOBO, o reflexo imediato e patente que essa irresponsabilidade causa na população, sobretudo na parcela menos provida de senso crítico e de estudo (que é bem ampla, diga-se de passagem, nesse nosso país cujos índices de analfabetismo nem precisam ser relembrados).
Nós, os gays, já sofremos preconceito demais! Somos vítimas de um constante e antijurídico assédio social! A todo instante, de forma direta ou indireta, nos é cobrado – inclusive dentro de nossas famílias e de nossas casas, o que é mais absurdo! – que não demonstremos o afeto que possuímos por nossos pares! É-nos exigido que passemos despercebidos, fingindo masculinidade ou feminilidade, a depender do caso! É-nos cobrado que tenhamos que olhar para o lado antes de direcionar um olhar de amor aos nossos companheiros! Enfim, já somos pressionados demais para não sermos quem somos, em plenitude de direitos, em que pese pagarmos os mesmos impostos! Sinceramente, não precisávamos que ninguém – muito menos uma pessoa jurídica com o poder da GLOBO – fortalecesse esse odioso preconceito! Pensei eu – munida dos últimos resquícios de inocência – que a emissora havia colocado três homossexuais assumidos com o objetivo – louvável – de reduzir o preconceito, a ignorância sobre o tema, trazendo esclarecimentos, deixando de mistificar o assunto, desvinculando homossexualidade de promiscuidade, enfim, propagando o respeito, mas, boquiaberta, tenho assistido o inverso e o pior: em horário nobre!
Outro dia, Pedro Bial virou-se para Serginho (que é um dos gays) e, sem qualquer rodeio, indagou: você é ativo ou passivo? E eu, agora, pergunto: onde está o respeito à dignidade? Quem disse que ser gay dá o direito de devassar a intimidade de alguém desta forma? Que tipo de orientação Pedro Bial tem recebido da GLOBO para perguntar isto a um homossexual e não perguntar a um heterossexual se ele gosta mais de sexo anal, oral ou “papai-mamãe”? E não venham me dizer que quem “está na chuva é para se molhar”, que vai para o programa quem quer e está disposto a tudo! Ainda que isto seja fato, não contesto a postura do participante em responder, tampouco em participar. Estou aqui para contestar a postura do apresentador do programa e, consequentemente, da emissora! O que se deseja quando se expõe alguém desta forma? Preservar o respeito a esta pessoa e à sua orientação sexual é que não é! Não é a toa que tenho ouvido relatos de que, alguns grupos, ao atacarem verbal e mesmo fisicamente um homossexual na rua, têm gritado “Gang Dourada”, fazendo clara menção a Marcelo Dourado (que é homofóbico patente, sem meias palavras!)!
Restam, agora, as derradeiras perguntas: ninguém vai fazer nada? Onde andam os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade? Onde anda a máxima de Kant que define a dignidade – no âmbito jurídico e filosófico – como o dever de tratar o ser humano como um fim em si mesmo, jamais como um meio para a satisfação dos interesses de outros, muito menos quando este outro é, “singelamente”, a Rede GLOBO?
Escrevi uma monografia entitulada “Homossexualidade: direito ou defeito?”. No trabalho, trato do tema, primeiro, no âmbito extrajurídico – valendo-me da História, Medicina, Genética, Psicologia e Psicanálise – para, depois, passar ao âmbito jurídico, mais especificamente o Constitucional. Para tanto, analiso 5 (cinco) princípios constitucionais. Os 3 (três) primeiros – igualdade, liberdade e dignidade da pessoa humana – de caráter geral e 2 (dois) outros – pluralidade das entidades familiares e afetividade – específicos do Direito de Família. Paralelamente à análise dos significados e conteúdos dos princípios abordados, busco vislumbrar - e vislumbro! - a homossexualidade como um direito, verificando que ela encontra respaldo constitucional. Feita essa verificação, parto do mundo constitucional para o real, numa tentativa de comparar o juridicamente idealizado com o humanamente concretizado. Desta feita, observo que o preconceito ainda inviabiliza a concretização da justiça quando o tema é homossexualidade. Por fim, dou a resposta à pergunta, título do referido trabalho. Homossexualidade: direito ou defeito? E a resposta mostra-se óbvia: DIREITO! Chego a esta conclusão com base na Ciência e no Direito, longe dos "achismos" e dos argumentos pseudojurídicos, que só encontram terreno fértil na ignorância e na falta de capacidade de "amar o próximo como a si mesmo". Talvez sejam estes os fundamentos que precisam ser expostos através da mídia, do Poder Judiciário, do Ministério Público Federal, enfim, de qualquer um que se disponha a fazer valer a Justiça!
Enfim, só queria registrar minha indignação, minha preocupação e pedir, por favor, que o Ministério Público Federal tome alguma providência jurídica, rápida e drástica, cumprindo com fidelidade e eficiência seus deveres institucionais, nos termos determinados pela Constituição Federal em vigor! Não é possível que, a esta altura do tempo e do Direito, uma emissora ainda coloque no ar uma pessoa – que, aparentemente goza das faculdades mentais e da simpatia do público – dizendo que “apenas os homossexuais contraem AIDS!”, como fez Marcelo Dourado. O que é isto? Ignorância ou maldade? Conclua-se por uma ou outra hipótese, trata-se, acima de tudo, de preconceito! Disseminação de preconceito!
Por fim, esclareço: falei sobre minha monografia porque quero pô-la a disposição, caso precisem de alguma fonte. Sei que existem muitas, mas, em meu trabalho, cuidei de resumir as principais. Pode facilitar.
Aguardo resposta e providências."
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quarta-feira, 3 de março de 2010
MORDAÇA (Poesia)
Nascemos amordaçados
Embora abramos a boca, aos berros, ao sair da barriga da vida
A mordaça circunda o coração
Mas não os lábios
E comprime,
Impede,
Estrangula o que sentimos,
O “eu” que realmente nos anima
E assim,
Com uma mordaça cardíaca,
Imunda,
Espessa,
Apertada,
Crescemos em coma induzido,
Vigiado
O silêncio ao que realmente somos é o pacto
Que, antes de nascermos, o mundo trava conosco
Ainda que à nossa revelia
Nascemos em estado inconsciente de nós
Em latência amarga de amor próprio
Sob a placa de proibição e acesso restrito:
O amor ao outro também é rotulado
E amar o igual ostenta as placas de “impróprio”,
“Anormal”,
“Abominável”,
“Inconcebível”
Carregar estes letreiros é o passaporte,
O vale,
A senha para nos tornamos parte desse mundo
Que possui consciência própria e a única julgada digna
Mas que hoje, sob a lente da inteligência e o crivo da crítica, me enoja
Eu rasguei a mordaça sob a qual sucumbia minha vida
O preço, pago dia a dia
Eu posso!
A moeda é a coragem, não a rebeldia
E a recompensa é um coração que fala
É um coração que bate
É um coração que cita:
“Amai o próximo como a si mesmo”
E não há gênero,
Não há lei,
Não há regra,
Não há farsa,
Não há sexo
Não há mordaça que restrinja um amor genuíno
Eis o segredo que a mordaça inibia
E sob o qual meu coração sempre bateu
Ainda quando em coma induzido,
Vigiado,
Enforcado pelo nó da hipocrisia.
Embora abramos a boca, aos berros, ao sair da barriga da vida
A mordaça circunda o coração
Mas não os lábios
E comprime,
Impede,
Estrangula o que sentimos,
O “eu” que realmente nos anima
E assim,
Com uma mordaça cardíaca,
Imunda,
Espessa,
Apertada,
Crescemos em coma induzido,
Vigiado
O silêncio ao que realmente somos é o pacto
Que, antes de nascermos, o mundo trava conosco
Ainda que à nossa revelia
Nascemos em estado inconsciente de nós
Em latência amarga de amor próprio
Sob a placa de proibição e acesso restrito:
O amor ao outro também é rotulado
E amar o igual ostenta as placas de “impróprio”,
“Anormal”,
“Abominável”,
“Inconcebível”
Carregar estes letreiros é o passaporte,
O vale,
A senha para nos tornamos parte desse mundo
Que possui consciência própria e a única julgada digna
Mas que hoje, sob a lente da inteligência e o crivo da crítica, me enoja
Eu rasguei a mordaça sob a qual sucumbia minha vida
O preço, pago dia a dia
Eu posso!
A moeda é a coragem, não a rebeldia
E a recompensa é um coração que fala
É um coração que bate
É um coração que cita:
“Amai o próximo como a si mesmo”
E não há gênero,
Não há lei,
Não há regra,
Não há farsa,
Não há sexo
Não há mordaça que restrinja um amor genuíno
Eis o segredo que a mordaça inibia
E sob o qual meu coração sempre bateu
Ainda quando em coma induzido,
Vigiado,
Enforcado pelo nó da hipocrisia.
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domingo, 31 de janeiro de 2010
CONSTRUÇÃO (Poesia)
Enquanto o tempo escala a parede feito tinta que ganha cor
A matéria se faz
E se desfaz
E se refaz
Ao nosso redor
É a madeira do sim e do não que pede força física e simbólica:
E ganha forma de armário onde, hoje, se guarda apenas o que importa
E ganha forma de porta, que deixa de fora o desalento da vida
E ganha forma de vida, que exige sentimento robusto, apesar das janelas de vidro
E ganha forma de mesa, sobre a qual o alimento abstrato também se apoia
Nossa casa, mesmo em meio à reforma, já possui guaridas
Onde só o que acrescenta pode entrar após o soar da campainha
E quem não se presta à ordem da faxina, que fique de fora
E quem não vem ao bem deste par, que vá embora
A porta da frente é a serventia deste nosso mundo particular
Onde, dia à dia, com afinco e afeto, transformamos reboco em lar.
A matéria se faz
E se desfaz
E se refaz
Ao nosso redor
É a madeira do sim e do não que pede força física e simbólica:
E ganha forma de armário onde, hoje, se guarda apenas o que importa
E ganha forma de porta, que deixa de fora o desalento da vida
E ganha forma de vida, que exige sentimento robusto, apesar das janelas de vidro
E ganha forma de mesa, sobre a qual o alimento abstrato também se apoia
Nossa casa, mesmo em meio à reforma, já possui guaridas
Onde só o que acrescenta pode entrar após o soar da campainha
E quem não se presta à ordem da faxina, que fique de fora
E quem não vem ao bem deste par, que vá embora
A porta da frente é a serventia deste nosso mundo particular
Onde, dia à dia, com afinco e afeto, transformamos reboco em lar.
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