Meu amor é água
Que preenche tudo
Cada parte de meu corpo
Outrora árido
Aguando flores
Florescendo vales
Derrubando muros
Meu amor é água
Que me invade e me represa
Que ora me ergue, inteira
Minando o centro de meu mundo
Que ora me deita, insone
À beira de mim mesma
Meu amor é água
Que dá a sede e sacia
Que mata o desejo e renasce
Sempre o mesmo e outro
Meu amor é água,
Mas também é fogo.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
DOR DE CRESCIMENTO
“Dor de crescimento”. Era este o diagnóstico que, quando criança, eu escutava no meio da madrugada sempre que acordava atordoada de dor no pé e mancava até o quarto de minha mãe, buscando ser salva. Desde aquela época, eu não queria apenas a explicação para aquele mal súbito que me acometia: queria a cura, queria vencer a noite e ganhar, sem dor, o dia. E, depois de muitas horas choramingando, a cura finalmente vinha. Minha mãe massageava meu pé com uma pomada que dizia ser “mágica” e, na sequência do mimo, o aquecia com uma meia de lã, sobre a qual deitava uma bolsa de água quente. Só então eu adormecia.
Mas o tempo foi passando, eu cresci – meu pé também – e a dor, vez por outra, ainda me visitava. Nas madrugadas, já longe de minha mãe – afastadas que estávamos pelos ideais e pelos mapas –, sempre que eu acordava com dor, era dela que eu me lembrava. E, no eco da memória, o diagnóstico novamente se fazia: “dor de crescimento”. Será que era mentira? Afinal, eu já havia crescido e a dor persistia, insolente, insone, órfã e má, a me molestar.
Até que, sem perceber, no correr de muito tempo, a dor misteriosamente desapareceu. “Finalmente – pensei comigo – eu estava completa”, não havia mais nada dentro de mim a se acomodar.
Porém, após algum tempo de trégua, noite passada a dor voltou. E eu a senti como nunca antes: não apenas no pé. Doeu-me o corpo inteiro! Assustada, despertei e andei trôpega pela casa em busca da “pomada mágica” que, em verdade, nunca me curou de nada! Foi quando a grande indagação se fez tão inevitável quanto o choro: o que, de mim, ainda haveria por dentro que pedisse espaço, que se esticasse na planta de meu pé, irradiando por minha perna e tomando meu corpo inteiro, feito bastão de ferro com o qual se soca o couro de uma sela, tentando moldá-lo de acordo com o cavalo? Eu não sabia. Não sabia para onde me ampliar. Afinal, o mundo já não me cabe como sou, ainda quando busco me resumir, ainda quando tento me adequar, ainda quando sucumbo ao assédio social sob o qual nos testam o tempo todo! Como haveria de me caber se eu me deixasse ser completa e não sucumbisse mais? Como haveria de me caber se eu fosse maior do que esta sociedade hipócrita me permite ser, em patente vantagem ao exército deplorável de iguais? Foi quando, tonta de dor, constatei: não sou eu, ampliada e verdadeira, que não caibo neste mundo! É o mundo, estreito e mentiroso, que dentro de mim já não cabe mais.
Amanheci sem dor, mas com a certeza de que ela irá voltar, afinal, exorcizar-se do mundo é tarefa para poucos e saber disto é o que dói mais.
Mas o tempo foi passando, eu cresci – meu pé também – e a dor, vez por outra, ainda me visitava. Nas madrugadas, já longe de minha mãe – afastadas que estávamos pelos ideais e pelos mapas –, sempre que eu acordava com dor, era dela que eu me lembrava. E, no eco da memória, o diagnóstico novamente se fazia: “dor de crescimento”. Será que era mentira? Afinal, eu já havia crescido e a dor persistia, insolente, insone, órfã e má, a me molestar.
Até que, sem perceber, no correr de muito tempo, a dor misteriosamente desapareceu. “Finalmente – pensei comigo – eu estava completa”, não havia mais nada dentro de mim a se acomodar.
Porém, após algum tempo de trégua, noite passada a dor voltou. E eu a senti como nunca antes: não apenas no pé. Doeu-me o corpo inteiro! Assustada, despertei e andei trôpega pela casa em busca da “pomada mágica” que, em verdade, nunca me curou de nada! Foi quando a grande indagação se fez tão inevitável quanto o choro: o que, de mim, ainda haveria por dentro que pedisse espaço, que se esticasse na planta de meu pé, irradiando por minha perna e tomando meu corpo inteiro, feito bastão de ferro com o qual se soca o couro de uma sela, tentando moldá-lo de acordo com o cavalo? Eu não sabia. Não sabia para onde me ampliar. Afinal, o mundo já não me cabe como sou, ainda quando busco me resumir, ainda quando tento me adequar, ainda quando sucumbo ao assédio social sob o qual nos testam o tempo todo! Como haveria de me caber se eu me deixasse ser completa e não sucumbisse mais? Como haveria de me caber se eu fosse maior do que esta sociedade hipócrita me permite ser, em patente vantagem ao exército deplorável de iguais? Foi quando, tonta de dor, constatei: não sou eu, ampliada e verdadeira, que não caibo neste mundo! É o mundo, estreito e mentiroso, que dentro de mim já não cabe mais.
Amanheci sem dor, mas com a certeza de que ela irá voltar, afinal, exorcizar-se do mundo é tarefa para poucos e saber disto é o que dói mais.
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